8.5.09

Líderes da UE recusam discutir desemprego

por Luís Neves, in Diário de Notícias

Cimeira de Praga, organizada por Governo demissionário, teve apenas três países em 27. E o Presidente Klaus lançou outra farpa ao tratado.

Lembrando que o desemprego é um dos principais problemas da actualidade europeia, a presidência checa da UE organizou ontem em Praga uma cimeira sobre a política de emprego em que, em vez dos 27 países, compareceram apenas três. O único primeiro-ministro era o anfitrião Mirek Topolanek, já demi-tido. Não poderia haver melhor exemplo para ilustrar uma presidência fracassada, que se afunda em acções irrelevantes e tropeça a cada passo nos obstáculos colocados pelo seu próprio Chefo do Estado, Vaclav Klaus.

A Comissão Europeia queria organizar uma verdadeira cimeira a 27 e nem sequer a aprovação na véspera do Tratado de Lisboa pelo Senado checo salvou a semana. Poucas horas depois de os senadores terem aprovado o documento, o Presidente Klaus lançou duras críticas ao entusiasmo, dizendo que a ratificação do tratado não é, para si, "uma prioridade". Com 79 senadores presentes na votação, o Senado aprovara o texto com 54 votos favoráveis. Bastavam 48. Mas para a República Checa concluir a ratificação falta a assinatura de Klaus, um presidente cuja eleição indirecta não o impede de ser, neste momento, o homem que puxa pelos cordelinhos da política interna.

Klaus está até em posição de irritar as potências europeias. O presidente é adversário do novo Tratado da UE e espera que a Irlanda volte a rejeitá-lo. Mas existe um plano B, outra forma de torpedear o documento: um grupo de senadores do partido a que pertenceu Klaus (ODS, liberais) tentará bloquear a ratificação pedindo uma decisão ao Supremo Tribunal. E, em Varsóvia, perfila-se um aliado: a assinatura dos dois presidentes checo e polaco (Vaclav Klaus e Lech Kaczynski) é necessária para concluir o processo de ratificação e começa a ser possível especular se os dois homens manterão a recusa em ratificar, mesmo no caso de a Irlanda o aprovar em referendo, o que deverá ocorrer até Novembro.

No caso checo, a luta pelo Tratado de Lisboa já provocou a queda do Governo de Mirek Topolanek, que não resistiu às divisões internas da ODS (liberais). O Governo demissionário arrasta-se penosamente no seu semestre rotativo e este último episódio da cimeira do emprego exibiu de novo todas as fracturas internas da UE.

Vários países, incluindo França, Bélgica, Reino Unido e Alemanha, argumentaram que esta cimeira tinha o risco de aumentar as expectativas dos europeus, numa altura em que os governos têm poucas condições para resolver a curto prazo o problema do desemprego. Assim, além da República Checa, apenas compareceram a Espanha e a Suécia, que completam a tróica da presidência, além da Comissão Europeia e dos parceiros sociais. A Europa deverá perder 8,5 milhões de empregos em 2009 e 2010, isto segundo previsões de Bruxelas.