17.5.10

Receios sobre abrandamento do crescimento económico

Por João Pereira Miguel, in Jornal Público

O agravamento das preocupações com a crise grega e com o contágio a outras economias da "periferia" da zona euro levou os líderes europeus a apresentarem um conjunto de medidas onde se destaca a criação de um mecanismo de estabilização financeira num montante até 750 mil milhões de euros. Tal como decidido no caso da Grécia, a origem de tais fundos em caso de assistência a uma economia em dificuldades caberá aos Estados-membros (dois terços) e ao FMI (um terço). Em simultâneo com este anúncio, Portugal e Espanha reviram os objectivos de redução do défice orçamental em 2010 (respectivamente, de 8,3 por cento para 7,3 por cento do PIB e de 9,8 por cento para 9,3 por cento). Neste contexto, no caso de Portugal, entre outras medidas, foi anunciado o aumento de um ponto percentual de todas as taxas do IVA, uma sobretaxa sobre o rendimento das pessoas singulares e colectivas, uma taxa adicional de 2,5 por cento no IRC sobre os lucros tributáveis acima de 2 milhões de euros e, do lado da despesa, cortes nos investimentos públicos já antes anunciados, redução das transferências para o sector empresarial do Estado e redução de 5 por cento nas remunerações dos titulares de cargos políticos e gestores públicos.

Apesar da boa reacção inicial por parte dos mercados financeiros, ao longo da semana foram-se adensando os receios de que, apesar de as medidas de austeridade implementadas por diversos Estados serem positivas no longo prazo, poderem a vir a ser extremamente negativas em termos de evolução do crescimento económico no curto e médio prazo, para além de terem surgido rumores de alguma deterioração nas relações entre os diversos líderes europeus, o que poderá indiciar fragilidades na coesão da União.

O certo é que, por enquanto, os diversos indicadores que vão surgindo em relação às economias dos EUA e da União Europeia apontam para uma recuperação da actividade económica. A semana passada ficou marcada pela divulgação de dados de crescimento: a zona euro registou, no 1.º trimestre de 2010, uma expansão de 0,2 por cento em relação ao trimestre anterior (estagnara no 4.º trimestre de 2009). Em termos homólogos, a evolução da actividade foi de 0,5 por cento, saindo da trajectória negativa de contracção da actividade dos últimos trimestres. Em termos nacionais, é de destacar a aceleração da economia alemã (de 0 para 0,2 por cento, em termos trimestrais) e a desaceleração da economia francesa (que, após ter crescido 0,6 por cento no 4º trimestre de 2009, avançou somente 0,1 por cento no primeiro trimestre deste ano). Portugal surpreendeu pela positiva ao apresentar um crescimento trimestral de 1 por cento (-0.3 no trimestre anterior, o que constituiu o melhor desempenho da zona euro).

Esta semana o destaque irá para a divulgação da decomposição pelas várias rubricas da despesa dos PIB da zona euro, o que ajudará a perceber com maior clareza quais as variáveis que mais estão a contribuir para a evolução das diversas economias. Igualmente na Europa, esta semana as atenções irão para a divulgação dos índices PMI relativos ao desempenho da indústria e dos serviços em Maio (na sexta-feira) e também para o índice ZEW de sentimento económico na Alemanha (na terça), dados referentes já ao 2.º trimestre de 2010. Igualmente abundante esta semana será a informação a publicar nos EUA: na segunda-feira, serão divulgados os índices Empire Manufacturing (que antecipa o desempenho do sector industrial em Nova Iorque) e o índice NAHB de sentimento dos empresários do sector da construção, ambos relativos a Maio. Na terça-feira, será conhecida a evolução de novas construções e a atribuição de licenças para construção no mês de Abril. Na quarta, serão publicados os dados da inflação de Abril e, na quinta-feira, o índice Philadelphia Fed, que procura traduzir o andamento da indústria naquele estado norte-americano em Maio.

ES Research - Banco Espírito Santo