por Diana Mendes, in Diário de Notícias
Estudo revela que as unidades de saúde familiar não diminuíram urgências. Muitos hospitais têm mais afluência
A criação de unidades de saúde familiares (USF), a aposta do Governo para melhorar os cuidados de saúde primários e aliviar os hospitais, teve pouco impacto na diminuição do número de urgências hospitalares.
Cerca de 40% de um total de 54 hospitais registaram subidas da afluência nos últimos três anos, apesar de terem sido abertas USF nas suas áreas de influência. Os resultados constam de um estudo, a que o DN teve acesso, desenvolvido pela radiologista Alexandra Cerqueira, no âmbito da sua tese de mestrado em gestão dos serviços de saúde na Escola Nacional de Saúde Pública.
A tese, Impacto da Implementação das USF na procura dos Serviços de Urgência, tem por base os dados brutos das urgências, ou seja, não distingue as que são verdadeiramente urgentes das que não deviam estar a ser recebidas nos hospitais. Segundo os dados, dez unidades hospitalares em Lisboa registaram um aumento, a que juntaram quatro no Norte e cinco na ARS Centro. Houve ainda dois hospitais do Alentejo e um do Algarve a registar a tendência.
Curiosamente, houve uma quebra da procura das urgências em 11 hospitais (20,3%), embora não tenha sido inaugurada uma USF neste período.
As USF são pequenas unidades (parecidas com centros de saúde) criadas pelos próprios profissionais de saúde que funcionam com objectivos de eficiência e que visam diminuir o número de pessoas sem médico de família.
Alexandra Cerqueira frisa que, tendo em conta o seu estudo, o efeito da reforma dos cuidados "ainda não se está a sentir", admitindo que também pode ser cedo".
E ressalva que houve casos em que o impacto da reforma se verificou. De acordo com o estudo, 15 unidades tiveram menos procura, 12 das quais na ARS Norte.
Luís Campos, médico internista e membro da Sociedade Portuguesa para a Qualidade em Saúde, explica ao DN que as pessoas continuam a ir à urgência e não só por falta de médico de família. "O hospital é uma espécie de centro comercial, onde as pessoas podem fazer tudo, desde consultas até exames e análises." A questão é ainda muito cultural e a urgência é uma porta aberta, por isso "há pessoas que até podem ir a centros de saúde e querem ter a certeza do diagnóstico no hospital.
Alexandra Cerqueira recorda que a análise não teve em conta factores como o fecho das urgências ou o apoio da linha Saúde 24.