in Jornal Público
Responsáveis de associações ligadas aos imigrantes em Portugal admitiram ontem que o cancelamento ou adiamento pelo Governo de grandes obras públicas irá afectar negativamente a comunidade imigrante no que respeita ao emprego.
O "impacto será brutal", tendo em conta que muitos imigrantes "estão inseridos" na actividade da construção, prevê Paulo Mendes, da Plataforma das Estruturas Representativas das Comunidades Imigrantes em Portugal (PERCIP). Em declarações à agência Lusa, Mendes sublinha que a crise nesse tipo de actividade já existe "há algum tempo", mas que agora a situação vai "agravar-se", sendo de prever um "aumento" do número de imigrantes que "regressarão aos seus países de origem".
Ao contrário do que acontecia há alguns anos, diz ainda Paulo Mendes, os imigrantes dificilmente poderão encetar novos projectos de vida em Espanha ou noutros países europeus, porque a crise também se alastrou a esses países, onde a percentagem de desempregados é igualmente elevada.
O dirigente da PERCIP aponta as comunidades africana e brasileira como as que irão ser mais afectadas pelo cancelamento ou adiamento de grandes obras de construção, mas observa que toda a sociedade portuguesa vai ser atingida pela crise.
Já Timóteo Macedo, membro do Conselho Consultivo sobre Imigração e responsável da Associação Solidariedade Imigrante, considera que o cancelamento de grandes obras terá "algum impacto", mas "não um grande impacto".
Na sua perspectiva, o que existe é uma economia informal e um sistema de trabalho ilegal a proliferar de tal forma que já perfaz 20 por cento da economia geral, sendo esta a situação que "urge combater". "Já não são os imigrantes em Portugal que são os mais penalizados com o corte nas grandes obras públicas", afirma Timóteo Macedo, muito embora reconheça que tais projectos iriam atrair novos imigrantes para Portugal. O mesmo responsável nota que os imigrantes que já cá estão "estão ocupados" com "os lugares que os portugueses já não querem".
O Governo anunciou na última quinta-feira um conjunto de medidas de austeridade para acelerar a redução do défice para 7,3 por cento em 2010 e 4,6 por cento em 2011 (ver páginas 2 a 5). Entre as medidas, negociadas com o PSD, estão o aumento das três taxas do IVA em um ponto percentual, a criação de uma taxa extraordinária de 2,5 por cento sobre as empresas com um lucro tributável acima de dois milhões de euros e a redução de cinco por cento nos salários dos políticos, gestores públicos e membros das entidades reguladoras.
O primeiro-ministro, José Sócrates, já tinha admitido o adiamento de grandes investimentos públicos como as obras do futuro aeroporto de Alcochete e a terceira travessia sobre o Tejo, no quadro do esforço para acelerar as medidas de consolidação orçamental. Lusa