António G. Rodrigues, in Mensageiro de Bragança
Há 16 anos que um grupo de ‘jovens’ reformados começou a praticar ginástica em conjunto, no Instituto Politécnico de Bragança, no âmbito de um projeto de investigação em desporto. Agora, quase duas décadas volvidas, são já cerca de 80 e não querem outra coisa.
“Venho por esta alegria e para sair de casa”, conta Amélia Cordeiro, que integra o grupo praticamente desde o início e garante que os ganhos têm sido muitos. “Sinto-me feliz. Há pessoas que, com a minha idade (72 anos), já não fazem metade do que eu faço”, aponta.“É uma forma de sair de casa mais cedo”, diz Rosário Monteiro.
O projeto + Idade + Saúde começou em 2007, pelas mãos de Miguel Monteiro, docente de desporto na Escola Superior de Educação do IPB.
“O objetivo é proporcionar exercício físico regular aos mais velhos e, também, serve de lado experimental para avaliações e implementação de exercícios”, explicou ao Mensageiro.
Também serve de “local de estágios para alunos de desporto e educação social”, tendo dado origem “a várias teses de doutoramento”.
O grupo é dedicado a pessoas com mais de 65 anos. O participante mais veterano tem 90 anos e é brasileiro, pai de um aluno, sendo que a maioria são mulheres.
Neutério Pires, de Bragança, é outro dos participantes. No final de mais uma aula, de uma hora, aproveita para ficar à conversa com outros participantes, como Manuel Sarmento, que também integra o grupo desde o início.
“Vimos por tudo. Pela ginástica, pelo convívio. Os reformados não têm mais o que fazer”, apontam, a rir-se.
Lurdes Gomes, que entretanto se juntou à conversa, garante que “a diferença em termos físicos é muito grande” e que se sente “mais aliviada”.
Manuel Monteiro, originário do distrito do Porto, experimentou e gostou. “Vim, fiquei a gostar e continuei. Esta iniciativa é muito boa. Em vez de ir ao médico, venho aqui”, revela.
A brigantina Marta, a madeirense Fátima, a pacense Catarina, o caboverdiano Mauro e o brasileiro Samuel são os monitores de serviço e notam a evolução na turma ao longo do ano letivo.
“Para além de terem atividade física, faz com que não fiquem sempre fechados em casa. Assim, criam um grupo de amigos. Fazemos avaliações regulares e vê-se uma grande melhoria na flexibilidade e destreza”, garantem.
De acordo com Miguel Monteiro, o objetivo será encontrar um financiamento que permita estudar os benefícios deste programa também na prevenção de doenças degenerativas, como o Alzheimer.
“O número de pessoas idosas irá quase triplicar até 2050, e com isso, promover estratégias para um envelhecimento ativo a nível mundial são fundamentais para prevenir o surgimento e evolução de doenças crónicas não transmissíveis (DCNTs), tais como diabetes, doença cardíaca, hipertensão, obesidade, e doenças neurodegenerativas”, explicou Samuel, um dos investigadores do projeto.
“Nos últimos anos tem sido aplicado o treino multicomponente (TMC), caracterizado por ser um tipo de treino capaz de estimular melhorias nas capacidades físicas diferenciadas, tais como força muscular, capacidade aeróbia/cardíaca, flexibilidade, agilidade e equilíbrio dinâmico, além de proporcionar melhorias na qualidade de vida e bem-estar das pessoas idosas.
Ao longo dos anos, o projeto tem contado com um grupo médio de 50 idosos (o que é bastante expressivo em termos de investigação científica). Atualmente, tem corrido uma investigação de doutoramento, na qual, foi acrescentado um novo tipo de treino ao TMC, e esse treino é chamado de High Intensity Interval Training (HIIT), o qual, tem como principal característica produzir curtos períodos de exercício aeróbio em altas intensidades, intercalados por períodos de repouso curtos ou relativamente maiores, os quais, produzem um forte estímulo cardiorrespiratório e circulatório no organismo das pessoas idosas”, explicou ao Mensageiro.
Deste projeto já resultou um outro, o Rosa Ativo, para doentes oncológicos e que tem, atualmente, cerca de uma dúzia de participantes.
As aulas decorrem três vezes por semana e as inscrições estão, neste momento, encerradas, por questões logísticas.
Só quando houver desistências se poderão admitir novos participantes.