2.12.14

Interior não é pobre, precisa é de políticas diferentes

in Jornal de Notícias

A ideia de que os territórios de baixa densidade do Interior de Portugal são pobres foi hoje rebatida numa reunião do Conselho Regional do Norte, em que foram reclamadas "políticas diferentes" para a valorização dos recursos.

Aquele órgão, em que estão representados todos os autarcas e organizações regionais, chamou especialistas para fazer o diagnóstico e perspetivar as oportunidades do próximo quadro comunitário de apoio, numa reunião em Alfândega da Fé, no distrito de Bragança.

Um dos oradores, o investigador Rio Fernandes, chamou a atenção de que se "confundem as questões do despovoamento e do envelhecimento com problemas de pobreza e muitos territórios de baixa densidade não têm esse problema da pobreza", o que lhes falta, segundo defendeu, são políticas específicas.


"Infelizmente o que nós temos tido é um olhar nacional como se o país fosse uma coisa unitária, não tem havido uma capacidade de diferenciar os nossos territórios e de dar mais valor a esses territórios de acordo com as suas caraterísticas", acrescentou.

Para este interveniente, a mudança "não se faz com discriminação positiva, mas com medidas diferentes, mais dirigidas, do que aquelas apostas que se faz para o país todo e que não tem efeito" nestes territórios.
Outro especialista, Luís Ramos, sublinhou o "elevado potencial" existente nestas regiões e que não "tem sido utilizado com proveito para os territórios e, sobretudo para a criação de riqueza e de emprego".

Apontou em concreto os recursos que são explorados, mas deixam muito pouco nestes territórios, como é o caso da energia, não só das barragens, mas dos parques de eólicas que tem um contributo para o país porque criam riqueza, reduzem a fatura energética, mas não contribuem para fixar a população nestes territórios ou criar emprego.

Outros recursos como o azeite, a castanha ou o vinho foram também apontados como exemplos da falta de capacidade de valorizar os recursos existentes, com "uma transformação mínima" a nível local.

O estudioso acredita que os fundos do próximo quadro comunitário de apoio podem contribuir para criar condições para estimular o investimento produtivo e a iniciativa empresarial nestas regiões.

"É preciso encontrar condições para se combatam estas assimetrias regionais", defendeu Paulo Cunha, presidente do Conselho Regional do Norte, que notou que "uma boa parte dos fundos que Portugal recebe deve-se exatamente ao facto de ser, do ponto de vista europeu, um território de baixa densidade, ou seja a porta de entrada dos fundos tem a ver com necessidade de coesão".

"E se Portugal recebe fundos comunitários para desanuviar assimetrias regionais é bom que parte dessas oportunidades sejam também canalizadas para que internamente se apoiem territórios que têm mais dificuldade de ter acesso a investimentos, à capacitação institucional", considerou.

Para a anfitriã e presidente de um dos mais pequenos concelhos, a autarca de Alfândega da Fé, Berta Nunes, os diagnósticos estão feitos, "o problema são as soluções".

"Aparentemente há consenso sobre aquilo que deve ser feito, mas a verdade é que nada é feito. Porque é que entre o discurso e a prática há este desfasamento, é preciso alguém que resolva este bloqueio", afirmou.

A socialista Berta Nunes entende que os autarcas também têm responsabilidades "em não se deixar capturar pelos interesses dos partidos" porque "muitas vezes quando o seu partido está no poder estão a ver medidas com as quais não concordam, mas sentem-se restringidos na sua capacidade de dizer que não concordam".