5.2.16

Sequestrados - 10 mil anjos de asas quebradas

Artur Pereira, in "Jornal I"

Desapareceram 10 mil crianças refugiadas, sem família, que procurava, asilo na Europa. Esta não é a Europa dos povos. E uma Europa território de mafias e manjedoura das oligarquias. E um espaço de sombras e ameaças Artur Pereira Os noticiários das rádios e televisões em hora de audiência gorda, .e alguns jornais de tiragem magra, deram nota na passada segunda-feira, do desaparecimento algures na Europa, de 10 mil crianças refugiadas. sem família. quê aqui procuravam asilo.

Desapareceram, como desaparece uma caneta, um lenço, ou como desapareceu o papel onde pela primeira desenharam a palavra mãe. 10 mil crianças de repente "invisíveis".

Que vergonha, que desumanidade, que gente medíocre e fria temos como lideres desta Europa em desconstrução.

A Europa berço de civilizações, a Europa da Renascença, do Iluminismo, das grandes revoluções humanas, das obras de arte imortais, da resistência, reduzida a entidade sem honra, sequestrada pela ganancia dos poderosos e dos seus invertebrados representantes políticos.
Esta não é a Europa dos povos. É: uma Europa território de mafias e manjedoura das oligarquias. É um espaço de sombras e ameaças, onde a razão social, foi substituída pelos interesses privados de uma casta que prospera á custa da exploração e sofrimento de milhões.

Como é possível, não se reagir a esta desgraça que atinge milhares de crianças? Como é possível que os dirigentes locais e nacionais, as organizações políticas e partidárias, não exijam de forma peremptória, resposta para o desaparecimento dos inocentes? Como é possível que nãos se realizem campanhas e protestos? Como é possível que a comunicação social não ofereça espaço diário a impedir que a tragédia se transforme em esquecimento, e utilize o seu poder como consciência acusadora do crime e dos seus cúmplices? Como é possível que a chamada sociedade civil não se sinta embaçada e não se mobilize contra a maldade com o mesmo empenho bacoco com que apoia uma selecção, e as redes socias, sempre tão dispostas a salvar cãezinhos. não reajam agora encolerizadas? Que ridículos indignados de teclado, que cobardes. Que vergonha.

Como é possível, que os notáveis, os nobres, e os homens pios, artistas e estrelas da televisão, os atletas de corpo são, os escritores maiores e menores, os comentadores de todas as coisas, humoristas, cantores e actores, os deputados de todas as bancadas, as primeiras damas e as outras.
não se mobilizem e chamem a si esta causa, levantando a voz para exigir saber - Onde estão as nossas crianças? Onde estão as 10 mil? A banalização do mal, torna-nos indiferentes e isso transforma-nos em desalmados, ficamos deformados a morrer por dentro, egoístas que pensado estar a salvo de alma e porta fechada, não vemos o apocalipse que se avizinha.

AS 10 mil crianças desaparecidas podem só ser uma gota de água, em Itália, calcula-se que tenham desaparecido 5 mil crianças e na Suécia outras mil.
Na União Europeia estão cerca de 270 mil crianças refugiadas, 27 % do mais de um milhão de pessoas que chegaram à Europa só no ano passado fugindo da guerra na Síria e conflitos na Eritreia no Egipto, e no Afeganistão.

As organizações mafiosas de trafego humano estão a fazer enormes fortunas com esta catástrofe humana. A mafia e os gangs, têm urna infra-estrutura sofisticada por toda a Europa com base na Alemanha e na Hungria.
Os bandos criminosos sequestram crianças para a exploração sexual na prostituição e pornografia, venda de droga, no trabalho forçado, na mendicidade, e para a participação forçada em roubos.

Os lucros fabulosos obtidos por estes crimes, são introduzidos e branqueados na economia legal, com a cumplicidade das grandes corporações.
bancos, escritórios de advogados, lobistas, instituições internacionais, políticos corruptos, sustentando assim todo o comércio de marcas de luxo, projectos imobiliários. exclusivos resorts turísticos, ou seja, a economia paralela mafiosa sustenta a economia real.
Acuso, os Estados Europeus, de criminosa ineficiência no combate à máfia que rapta trafica, tortura e mata crianças.
Acuso, a Comissão Europeia que não reage, acuso todos os políticos que não se fazem ouvir, por estarem mais preocupados em sobreviver no lodo, de cumplicidade assassina com a máfia.

Acuso, os hipócritas que de mãos juntas rezam aos céus, para não ter que olhar os corpos inchados das meninas e meninos afogados.
Acuso-os, porque existem meios para combater este flagelo, não existe é coragem nem vontade politica porque a vossa promiscuidade com a máfia é já tão profunda e estreita, que perderam a dignidade e o sentido do bem e do mal.

Porque caminham milhares de quilómetros por montanhas e vales, assaltados por bandidos, abusados e vítimas de violência, na maior vaga de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial? Porque não ficaram nas vossas terras, e se deixaram destroçar pelas bombas que caiem do céu, ou metralhar os vossos corpos quando corriam desajeitados atrás de uma bola, ou despedaçados pelas minas a caminho da escola que resiste? Não venham meus filhos, não atravessam esse mar que vos engole, nem passem essas montanhas que esconde o ogre. Não venham meus filhos, morram nas vossas terras com nomes de sonhar, porque esse chão é o vosso, e o ultimo rosto que irão ver é o de alguém que vos ama.

Não venham meus filhos, não venham com os vossos olhos abertos e as vossas mãos estendidas, com o vosso sorriso de esperança. Meus pobres filhos, não venham, o sofrimento que vos espera é indescritível. Aqui vão sofrer o inimaginável, vão morrer devagar, todos os dias, numa mágoa de não entenderem porque vos tratam assim, quando vocês são só meninos com medo.

Meus anjos de asas quebradas, não venham assombrar as minhas noites transformando-as em pesadelos de imensa vergonha. Fiquem, resistam e sobrevivam.