Nuno Escobar de Lima, in iOnline
Bruxelas ameaça países que não respeitam as quotas com multa de 250 mil euros por cada visto rejeitado
“Ainda estou a pensar se é a sério, porque parece uma mentira de 1 de abril”. A reação de Witold Waszczykowski, ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, diz muito sobre as dificuldades que enfrentará a Comissão Europeia para conseguir aprovar a proposta de recolocação de refugiados anunciada ontem.
Oito meses depois de os 28 terem acordado um sistema de recolocação de 160 mil refugiados – e de terem completado apenas 1441 –, o braço executivo da UE cedeu à pressão dos países estrangulados pela chegada de migrantes, Grécia e Itália à cabeça.
A proposta mantém o sistema de quotas que representa a “percentagem justa” de migrantes que cada Estado-membro deve receber, calculada através dos índices económicos e da população de cada país. Mas como poucos são os exemplos de aplicação voluntária da fórmula, a Comissão pretende dar um empurrão, em forma de multa.
Sempre que um país atingir 150% da sua quota – e tanto a Grécia como a Itália estão atualmente sujeitos a uma percentagem bem maior – terá o direito de recolocar refugiados noutros Estados-membros. E aqueles que rejeitarem sem ter cumprido a sua quota serão intimados a pagar 250 mil dólares por cada visto recusado. O dinheiro será transferido exatamente para os país que propôs a recolocação rejeitada
“Chantagem inaceitável”, respondeu o líder da diplomacia húngara, Peter Szijarto, juntando-se às críticas de Polónia, Eslováquia ou República Checa. Segundo a nova proposta, a Polónia de Waszczykowski, por exemplo, estará ‘obrigada’ a receber sete mil refugiados – tal como já previam as quotas acordadas em setembro. Mas a partir de agora, se mantiver a rejeição total ao plano, ficará sujeita a uma multa de 1,75 mil milhões de euros – ou cerca de 0,4% do PIB registado em 2015.
“Não há volta a dar. Sempre que um Estado-membro estiver esmagado terá de haver solidariedade e uma dose justa de responsabilidade dentro da UE”, argumentou Frans Timmermans, o vice-presidente da Comissão que ontem anunciou a proposta.
Solidariedade a que Reino Unido, Irlanda e Dinamarca têm o direito de se excluir, por força de estatutos de exceção que ultrapassam a questão dos refugiados. E que não é certo que será imposta aos restantes, uma vez que para se tornar realidade a proposta terá de ser aprovada por uma maioria dos 28 governos nacionais e pelo Parlamento Europeu.
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