1.6.16

A alegria (ou não) dos primeiros anos de vida

Rita Pimenta, Manuel Roberto, Nelson Garrido, Daniel Rocha, Enric Vives-Rubio, Adriano Miranda, Nuno Ferreira Santos, Paulo Pimenta, Rui Gaudêncio e Sérgio Azenha, in Público on-line

Os fotógrafos do PÚBLICO fizeram uma selecção de imagens e Rita Pimenta escreveu um texto sobre ser criança.

Descoberta, espanto, alegria, brincadeira são palavras que nos remetem para a infância. Choro, injustiça, crueldade, também. Tendemos a idealizar os primeiros anos de vida, os nossos e os dos outros. Mas nem toda a gente o faz: “Saudades da infância, eu?”, escutou-se a um homem com cerca de 80 anos, num grupo de amigos a rondar a mesma idade. “Andava descalço, percorria uma data de quilómetros para ir trabalhar e ainda levava pancada só por dizer que queria ir à escola. Não, não tenho saudades nenhumas daquele tempo.”

Também a escritora e jornalista Alice Vieira nos disse numa entrevista: “Só gosto da minha vida a partir dos 20 e tal anos.” Na altura, revelava ainda a sua antipatia pela expressão “a criança que há em nós”. Com humor, brincou: “Criança? Qual criança? As crianças que tive em mim foram os meus filhos. Mas isso foi porque estava grávida.”

Nesta quarta-feira, 1 de Junho, assinala-se o Dia Mundial da Criança, comemorado a primeira vez em 1950 por proposta da Federação Democrática Internacional das Mulheres às Nações Unidas. A partir de então os Estados-membros da ONU reconheceram às crianças, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social, o direito a “afecto, amor e compreensão”, “alimentação adequada”, “cuidados médicos”, “educação gratuita”, “protecção contra todas as formas de exploração”, “crescer num clima de paz e fraternidade universais”.

A 20 de Novembro de 1959, vários países aprovaram a Declaração dos Direitos da Criança e, 30 anos depois, em 1989, as Nações Unidas assinaram a Convenção sobre os Direitos da Criança. Mas, apesar de se ter tornado lei internacional em 1990, é sabido como essas directivas não são cumpridas em muitas regiões e nem os mais elementares princípios são sequer respeitados em muitas famílias, mesmo em países ditos “civilizados”.

Mas hoje é dia de festa e também não nos queremos esquecer disso. Há muitas actividades pelo país e pelo mundo, a celebrar aquele que devia ser o primeiro dos mais felizes períodos das nossas vidas. Um estádio inicial em que, como dizia recentemente Rita Taborda Duarte, no encontro Livros a Oeste, “quando nos falam nas pernas de uma mesa, acreditamos que elas são pernas de verdade e podem desatar a correr”. Talvez por isso os poetas sejam os adultos mais parecidos com as crianças.

Só nesta fase se diz, com naturalidade, à chegada da noite: “Alguém apagou o céu.” Ou se questiona sem hesitação: “Será que, quando parti a cabeça, parti o pensamento?” Na infância, corremos, saltamos à corda, nadamos, andamos de baloiço e de bicicleta unicamente por prazer. Não para “trabalhar” os glúteos ou os abdominais.

Diz o dicionário que uma “criança” é “um menino ou uma menina no período da infância”. Por sua vez, “infância” corresponde ao “período de vida humana desde o nascimento até à puberdade”, que, por sua vez também, quer dizer “idade em que o indivíduo adquire maturidade sexual e se torna apto para a procriação”.

Abreviando, é-se criança desde o nascimento até ao momento em que se fica apto para a procriação. Termina o recreio, mas pode muito bem começar outra festa.

Se tem crianças por perto, há um presente especial que lhes pode dar: atenção. E não é só hoje.