16.6.16

Há 145 pessoas a viver nos hospitais à espera de resposta social

Marta F. Reis, in ionline



A maioria são casos de doença mental e ausência de familiar responsável, o que inclui situações de abandono ou em que a família não tem capacidade para levar o parente para casa. Hospitais registaram 1150 “casos sociais” em ano e meio

Há 145 pessoas a viver nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde por falta de condições para regressar a casa, casos em que a estadia hospitalar é prolongada após a alta clínica. O balanço foi feito ao i pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e o número inclui não só as situações de abandono – fenómeno que tem sido mais discutido nos últimos meses dada uma projeto de lei do último governo para avançar com a criminalização – mas também casos em que os familiares não têm condições para ficar a cuidar dos parentes, na maioria das vezes idosos. Há também situações de doença do foro mental, que exigiriam resposta especializada.
A análise da ACSS não discrimina o número de pessoas em cada situação mas refere que a maioria prende-se com doença mental ou ausência de familiar responsável. E a maioria está a aguardar vaga em lares da Segurança Social, designados como estruturas de apoio residencial a pessoa idosa.

Monitorização arrancou em 2015 No início de 2015, uma sobrecarga do afluxo aos hospitais por causa de um pico de gripe e a constatação de que havia muitas camas ocupadas por este tipo de “casos sociais” levou o Ministério da Saúde a intervir nesta área. Iniciou-se, então, a monitorização do número de utentes que ficam a ocupar enfermarias dos hospitais públicos quando não está em causa encontrarem uma vaga em estabelecimentos de saúde (como na rede de cuidados continuados) mas simplesmente não terem para onde regressar, o que implica intervenção do foro social.

Quando começaram a avaliação regular e a tutela fez a primeira recolha de casos, encontravam-se nesta situação 200 utentes. Em ano e meio, revelou ao i a ACSS, muitos mais acabaram por passar alguma temporada nos hospitais por este mesmo motivo: neste período, foram registados 1150 casos de prolongamento de alta clínica. A ACSS adianta que, no final do primeiro trimestre, entre 145 pessoas, o doente a aguardar mais tempo estava nesta situação há mais de três meses. A média de idade dos utentes é superior a 65 anos, embora o ministério da Saúde não analise em detalhe o perfil dos doentes.

Articulação com a segurança social A monitorização por parte do Ministério da Saúde pressupôs também uma maior articulação com a Segurança Social, no sentido de se dar andamento aos casos. “A informação é remetida aos interlocutores do Instituto de Segurança Social”, informou a ACSS.

Questionado pelo i, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social apresenta números diferentes: informa que foram referenciadas mais de 250 pessoas desde Janeiro de 2015 e que algumas situações não foram alvo de acompanhamento por motivo de óbito ou agravamento do estado de saúde. O ministério adianta que esta é uma área onde se colocam diferentes desafios, como serem pessoas com elevados níveis de dependência e uma rede de suporte familiar fraca ou inexistente. Há também casos de cidadãos estrangeiros sem documentos que aguardam intervenção de consulados, exemplifica. A Segurança Social refere ainda que está a avaliar esta problemática, no sentido de haver uma maior agilização na transferência de doentes.

Maioria dos casos em Lisboa A região de Lisboa e Vale do Tejo concentra maioria dos casos: permanecem nos hospitais da capital e imediações 68 pessoas nesta situação. Seguem-se os casos na região Norte do país (48), no Algarve (25), no Alentejo (3) e na região Centro verificava-se no final do primeiro trimestre apenas um caso.
Marta Temido, presidente da Administração Central do Sistema de Saúde, revelou ao i que esta é uma situação particularmente problemática em alguns hospitais de Lisboa, que já chegaram a ter de custear a admissão de utentes em lares para libertar camas para doentes.
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