6.6.16

Resgatar a Economia

Daniel Adrião, 1º Subscritor da Moção de Estratégia Política "Resgatar a Democracia" ao XXI Congresso Nacional do Partido Socialista, in Económico

O fosso entre ricos e pobres em Portugal aumenta há cinco anos consecutivos. Portugal é hoje um dos países mais desiguais da Europa e do mundo desenvolvido.

A distribuição de rendimento é muito desigual em Portugal e agravou-se com o programa de ajustamento. Hoje é claro que o ajustamento foi feito principalmente à custa dos mais pobres e não dos mais ricos. Estudos demonstram que durante os últimos cinco anos os portugueses com remunerações mais altas tiveram um corte de rendimento na ordem dos 8%, ao passo que aqueles com remunerações mais baixas tiveram um corte na ordem dos 25%.

No último ano, 68,5% dos portugueses declararam um rendimento inferior a 7.000 euros anuais, isto é, cerca de 585 euros mensais. Não é, por isso, de estranhar que a taxa de risco de pobreza em Portugal, antes de apoios sociais, atinja hoje 48%, isto é, quase metade da população. É urgente quebrar o ciclo vicioso de empobrecimento, que afecta principalmente os portugueses mais vulneráveis, e mudar o nosso paradigma económico que continua assente no trabalho indiferenciado e na mão-de-obra barata.

Os países onde os níveis de desigualdade são mais baixos, são precisamente aqueles em que o grau de complexidade económica é mais alto. As economias de alta complexidade são aquelas em que os factores económicos, educacionais e tecnológicos se interligam em relações de interdependência gerando um círculo virtuoso de conhecimento complexo. Um país pode investir muito em educação, em I&D, em inovação, mas se não tiver uma estrutura produtiva capaz de absorver esses conhecimentos e transformar isso em riqueza material, então não será capaz de potenciar todo o investimento feito a montante.

O investimento em educação e ciência são fundamentais mas não são, por si só, suficientes para gerar crescimento económico. Esse é o problema que neste momento afecta Portugal. Como sabemos, temos hoje a geração mais qualificada de sempre, mas não temos um tecido económico com complexidade suficiente para absorver essas qualificações. O que faz com que, muitas vezes, a mão-de-obra qualificada seja desvalorizada e remunerada ao nível da mão-de-obra indiferenciada.

Para que o crescimento económico possa ser sustentável não basta apenas que alguns “nichos” de pessoas ou empresas reforcem a sua competitividade, é fundamental que a média da sociedade atinja níveis mais exigentes de qualificações e competências e haja um sector produtivo capaz de desenvolver produtos e serviços de alto valor-acrescentado, que estejam integrados em cadeias de valor globais.

Defendemos que a economia de um país é algo demasiado importante para estar exclusivamente dependente da iniciativa privada. Por isso, defendemos que o Estado deve ter um papel activo na definição estratégica da actividade económica. Defendemos um Estado inovador e empreendedor, que desenvolva políticas que promovam a competitividade e o crescimento. Uma estratégia que, para dar frutos, necessita que o investimento em inovação se traduza em crescimento inteligente e inclusivo.

A criação de valor não se faz individualmente, faz-se colectivamente. É preciso “socializar” o crescimento. A massificação de uma cultura de inovação é um factor crítico para o sucesso de uma estratégia de competitividade e de crescimento assente na criação de valor.