Bárbara Wong, in Jornal Público
Iniciam a vida sexual mais tarde, usam mais o preservativo, mas estão menos informados quanto ao HIV
Começam a sua vida sexual mais tarde e com mais precauções. Os adolescentes portugueses deixam para depois dos 14 anos essa decisão e tomam as devidas precauções. Mas não é o receio de serem infectados pelo vírus do HIV/sida que os faz usar o preservativo, mas sim o velho medo de engravidar.
No espaço de quatro anos, de 2002 para 2006, os jovens estão mais convencidos de que não correm o risco de ser infectados - mais de metade dá respostas nesse sentido - e tornaram-se menos tolerantes para com os doentes com sida. Confessam que não se sentariam ao lado de um colega que estivesse infectado, nem visitariam um amigo doente. Nove por cento dizem que as pessoas infectadas deveriam viver à parte do resto da população.
O Comportamento Sexual dos Adolescentes Portugueses é o relatório mais recente produzido pela equipa da investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, e compara dados recolhidos em 2002 e em 2006 para o Health Behaviour in School-Aged Children, um estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde que pretende estudar os estilos de vida e comportamento dos adolescentes. Em 2002 foram inquiridos 6131 adolescentes, do 6.º, 8.º e 10.º anos, com uma média de idades de 14 anos, aproximadamente o mesmo número de rapazes e raparigas, distribuídos proporcionalmente pelo continente. Quatro anos depois, o inquérito foi aplicado a 4877 jovens.
Mais intolerantes
No que diz respeito às crenças e atitudes face ao HIV/sida, os jovens estão menos informados e mais intolerantes. No espaço de quatro anos diminuiu em quatro por cento o número de adolescentes que não se importariam de se sentar ao lado de um colega infectado (de 70,8 para 66,6 por cento). Também cai a percentagem dos que visitariam um amigo que estivesse infectado, de 83,9 para 80,6 por cento. Apenas seis em cada dez concordam que a um jovem infectado seja permitido frequentar a escola.
Há uma percentagem reduzida, mas que aumentou comparativamente a 2002, de sete por cento que confessa que deixaria de ser amigo de uma pessoa infectada e 9,3 por cento declaram que as pessoas doentes deveriam viver à parte do resto da população.
De 2002 para 2006 verifica-se que diminuiu o número dos que afirmam que uma pessoa pode ficar infectada se usar uma agulha ou seringa já utilizada (o valor caiu de 94,1 para 89,8 por cento); que se pode ficar infectado tendo relações sexuais sem usar preservativo com alguém que esteja doente (de 87,9 para 86,7); e que uma mulher com o vírus, se estiver grávida, o seu bebé pode ficar infectado (de 89 para 80,2).
Por outro lado, aumenta o número de jovens que acreditam que é possível ficarem infectados se abraçarem alguém com o HIV (de 3,1 para 5,5 por cento) ou que, se essa pessoa tossir ou espirrar perto de outras, pode contagiá-las (12,2 para 13,9 por cento). Há ainda quem diga que a pílula pode proteger do vírus (de 9,8 para 11,3).