Maria Cláudia Monteiro, in Jornal de Notícias
José Tavares e Maria Amélia investiram parte das reformas na compra de uma cadeira elevatória, que quase nunca funcionou até avariar de vez. O casal, de 88 e 83 anos, desespera pela visita do técnico que a possa arranjar.
José Tavares ergue os braços para o céu: "Não há direito de nos tratarem assim... Somos dois velhinhos que não podem andar". Aos 88 anos, chora, inconsolável. A cadeira elevatória, parada ao fundo das escadas da casa que construiu com as próprias mãos, foi a gota da água num desespero prestes a transbordar.
A casa, em Rio Tinto, erguida pacientemente depois do trabalho na Carris com a ajuda de quatro colegas, e que amparou, durante anos, a vida de José, Maria Amélia e dos dois filhos, é hoje a antecâmara do sofrimento. A parte habitacional está concentrada no primeiro andar, o que obriga o casal a vencer impiedosos degraus de cada vez que procuram o aconchego do quarto. "Se adivinhasse, nunca faria uma casa com primeiro andar", explica José Tavares. "Mas não se sabe o futuro...", lamenta.
Mas foi para precaver o futuro que compraram a tal cadeira elevatória, que teima em não funcionar. Comprado a uma empresa da especialidade, o aparelho nunca trabalhou devidamente. E, apesar do contrato de assistência, assinado na altura da compra, a cadeira nunca foi arranjada com sucesso pelos técnicos, motivo que precipitou o cancelamento da pagamento de 85 euros mensais.
Maria Amélia, de 83 anos, aprendeu a subir e a descer as escadas sentando-se degrau a degrau. O exercício hercúleo face à fragilidade da idosa ditou uma queda que provocou uma fractura do fémur e subsequente cirurgia. À espera do alta hospitalar da mulher, José não vê como poderão os dois sobreviver naquela casa.
Já contactou várias empresas de cadeiras elevatórias para que lhe consertem o aparelho, mas cada uma das marcas que operam no mercado guarda segredos sobre os respectivos artigos, o que inviabiliza a reparação por parte de um técnico de outra empresa. De tanto procurar uma solução, José Tavares até já sabe de cor o número da página da lista telefónica onde constam as empresas do ramo. Em vão.
Sem alternativa, José contactou a empresa para que procedesse ao arranjo. Pediram-lhe antecipadamente o pagamento de 150 euros, a que o idoso acedeu. Foi há dois meses e, de então para cá, nunca mais foram contactados por qualquer técnico. "Resta-nos dormir no sofá do escritório, tortos e cheios de frio...", lamenta José Tavares. O JN tentou obter esclarecimentos junto da empresa, que, no entanto, não fez chegar qualquer comentário em tempo útil.