Ana Rita Faria, in Jornal Público
Mais desemprego, receitas em queda em algumas das maiores empresas mundiais e o consumo a deteriorar-se. A crise ganha intensidade a cada dia que passa
O mundo acordou ontem para mais um dia de crise. O número de desempregados continuou a aumentar e a bater novos máximos históricos, ao mesmo tempo que se sucederam os anúncios de perdas e de novos despedimentos por parte das empresas.
Dos Estados Unidos voltaram a surgir sinais do adensar da crise, depois de o Departamento do Trabalho do país ter revelado que o número de norte-americanos a receber subsídio de desemprego disparou para um nível recorde de 4,8 milhões, na semana terminada em 17 de Janeiro. Paralelamente, aumentaram também os novos pedidos de subsídio de desemprego, ultrapassando os 580 mil.
A agravar o cenário na economia norte-americana, foram ontem divulgados os dados sobre a venda de casas novas, que atingiram o valor mais baixo desde 1963 em Dezembro. As restrições ao crédito e a escalada do desemprego, que roubaram poder de compra aos consumidores, fizeram com que as compras caíssem 15 por cento para as 331 mil habitações.
Com quedas acima do esperado nos EUA estiveram também as encomendas de bens duradouros, mostrando que as empresas continuam a apertar os cintos face ao acentuar da recessão no país. O panorama pode ficar ainda mais negro hoje, dia em que os economistas esperam que o Departamento do Comércio norte-americano divulgue que o Produto Interno Bruto (PIB) contraiu 5,4 por cento em termos anuais nos últimos três meses de 2008.
Mas ontem foi também dia de más notícias para a Europa. O sentimento económico na zona euro atingiu um nível mínimo este mês, ao passo que os empréstimos ao sector privado caíram em Dezembro, naquele que é o primeiro declínio desde que este indicador começou a ser registado.
Na maior economia europeia, a Alemanha, o aumento do desemprego foi duas vezes superior às previsões dos analistas. Este mês, a taxa de desemprego subiu já para os 8,3 por cento, elevando para 3,49 milhões o número de alemães desempregados.
Acompanhando o deteriorar da conjuntura económica, várias empresas anunciaram ontem quedas nos lucros e novos despedimentos. Foi o caso da Ford Motor (que registou a maior perda anual da sua história), mas também da Eastman Kodak (que vai despedir 4500 pessoas). Já a japonesa Sony e a rival Nintendo reviram em baixa as suas perspectivas de crescimento para este ano.
Seguindo as pisadas da economia mundial, Portugal não escapou ontem a novas más notícias, com o clima económico e a confiança dos consumidores a continuarem o seu movimento descendente. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o indicador de clima económico voltou a cair em Janeiro, o que representa a nona queda consecutiva e também o nono mínimo histórico. Segundo o INE, a diminuição deste indicador já se "verifica consecutivamente desde Maio de 2008" e atingiu "um novo mínimo histórico desde o início da série em 1989". Além disso, todos os indicadores de confiança mostraram uma tendência negativa este mês, "prolongando o contínuo movimento observado nos três meses anteriores e a tendência descendente iniciada em finais de 2006", adianta o Instituto de Estatística.