Ana Rute Silva e Luís Villalobos, in Jornal Público
Em 2008, quase 45 mil empresas fecharam portas e mais de 35.600 iniciaram negócio. Os últimos três meses foram os mais graves
Em apenas um mês perderam-se 12.340 empresas em Portugal. Os 31 dias de Dezembro do ano passado viram desaparecer 15.046 empresas, e assistiram à criação de apenas 2706 sociedades, de acordo com dados enviados pela Informa D&B ao PÚBLICO, que recolhe informações empresariais.
Após um início de ano com saldo positivo, com mais aberturas do que encerramentos, o ponto de viragem deu-se em Outubro, quando a crise financeira estava a tornar-se cada vez mais visível. Em Novembro, o número de dissoluções foi quase cinco vezes superior ao surgimento de novos projectos, mas, ainda assim, o pior foi mesmo o resultado de Dezembro.
Olhando para o número de criação e encerramento de sociedades ao longo do ano, 35.635 e 44.710, respectivamente, verifica-se que o saldo é claramente negativo, com a perda total de 9075 empresas em 2008.
O distrito de Lisboa é o que sofre mais impactos desta tendência, com 17.556 dissoluções, seguindo-se o Porto com 9779 e Braga com 3969. Na dinâmica de criação de empresas, com uma clara desaceleração a partir do início do segundo semestre, é também nestes três distritos que se registam mais casos de empreendedorismo.
Lisboa é a região que mostra mais dinâmica, com 10.320 novas empresas no ano passado (quase um terço do total). Segue-se o Porto, com 6298, e Braga, com 2766.
Indicadores que, mesmo assim, foram insuficientes para inverter o saldo negativo provocado pelos efeitos da crise.
890 fábricas em falência
Ainda em 2008, 890 fábricas avançaram com pedidos de insolvência e falência em 2008, ano em que estes processos atingiram 3344 empresas em todo o país.
Os dados divulgados ontem pela Informa D&B revelam que o número de companhias que avançaram com pedidos de insolvência e falência aumentou 67 por cento o ano passado, face a 2007. Depois dos fabricantes, construtores e grossistas foram os que registaram mais processos. De acordo com o Estudo sobre processos de insolvência e de falência em 2008, no retalho os pedidos aumentaram 33 por cento para 412, um sinal da crise que tem afectado os pequenos comerciantes, que são o ponto de ligação entre os consumidores e grossistas e fabricantes.
Tal como no ano anterior, o Porto mantém-se como o distrito onde as empresas estão em maiores dificuldades. No total, 906 sociedades abriram processos, mais 51 por cento face ao período homólogo. Braga e Lisboa também se destacaram pela negativa.
Na capital, 651 companhias avançaram com pedidos; em Braga foram 533, mais 92 por cento do que em 2007. A maioria dos processos em curso (170 já foram entretanto dissolvidas e uma foi comprada) foi requerida pelos seus credores. Apenas 31 por cento foi solicitado pelos responsáveis das próprias empresas.
A grande maioria das companhias afectadas por estes processos (sendo que algumas ainda poderão manter--se activas) têm menos de cinco empregados (são 1716), mas foram as que contam com 10 a 20 trabalhadores que mais pedidos fizeram (um aumento de 78 por cento). Perto de 40 por cento tem um volume de negócios inferior a 500 mil euros e a maior parte tem um capital social superior a 50 mil euros. Em termos de longevidade, a maioria está no mercado há menos de dez anos.