Ivete Carneiro, in Jornal de Notícias
Pelo menos seis jovens portugueses abandonaram o sistema es-colar nos últimos dois anos por não conseguir aguentar a discriminação perante a sua orientação sexual. E oito admitem ter mesmo tentado o suicídio.
Os casos dizem exclusivamente respeito a queixas voluntárias recebidas pelo Observatório de Educação LGBT, criado pela Rede Ex-Aequo - Associação de Jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Simpatizantes entre Outubro de 2006 e Outubro de 2008. Uma amostra que a rede faz questão de dizer que não é representativa: "A maioria das situações encontram-se para além do nosso conhecimento".
No entanto, e tendo por base as 92 queixas recebidas, o abandono escolar representa mais de 6% da forma como reagem os jovens que se dizem discriminados. E a tentativa de suicídio aproxima-se dos 9%. Tanto quanto a auto-mutilação. Uma situação que, segundo a associação, decorre do isolamento em que se remetem os visados.
Além de revelar agressões verbais e psicológicas, sobretudo, mas também físicas, o relatório alerta para situações de discriminação perpetradas por professores e por outros homossexuais e bissexuais que "adoptam posturas homofóbicas para que nenhum dos colegas desconfie".
A maioria das denúncias dizem respeito a situações ocorridas no Ensino Superior e nos dois últimos anos do Secundário. Envolvem mormente alunos, mas também professores, e, na sua maioria, reportam o perpetuar das agressões (43 queixas indicam mais de cinco casos).
Para a Rede Ex-Aequo, a discriminação é "consequência da ausência de uma educação para o respeito e a promoção da dignidade das pessoas LGBT". E aponta o dedo ao sistema educativo, que não integra curricularmente o tema da orientação sexual.
O problema estende-se à sociedade e leva a que a maioria das vítimas recusem partir para a queixa. Apenas sete ousaram, enquanto os restantes afirmam claramente temer a mesma discriminação por parte das autoridades e recear que pais e colegas descubram a sua orientação sexual. E a verdade é que apenas duas queixas deram resultado positivo: um pedido de desculpas formal e protecção policial (neste caso, a vítima é um adulto de 43 anos).
A Rede Ex-Aequo defende, por isso, maior atenção dos agentes educativos. E alerta para os resultados da homofobia: segundo estudos internacionais, "a população LGBT, durante a adolescência e juventude, tem uma probabilidade de baixa auto-estima, depressão e auto-agressão pelo menos três vezes superior em relação à população jovem em geral".