Ana Rita Faria, in Jornal Público
Nem 0,8 nem 1,6. O governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio, admitiu ontem que a economia portuguesa vai contrair mais do que 0,8 por cento este ano, mas que não chegará a atingir a previsão "sem fundamento" da Comissão Europeia (CE) que estima que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional caia 1,6 por cento.
Apesar de "a situação económica mundial se ter agravado significativamente nos últimos 15 dias", Vítor Constâncio contesta as previsões da CE de uma contracção de 1,6 por cento na economia portuguesa e, nomea-damente, de uma quebra de 0,2 por cento no consumo privado. Segundo Vítor Constâncio, a previsão de descida no consumo das famílias portuguesas não faz sentido, visto que "a inflação vai diminuir e o rendimento real disponível vai aumentar".
Falando perante a comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, o governador do BdP reiterou que a incerteza e os riscos de qualquer projecção são invulgarmente elevados, sobretudo numa altura em que "os acontecimentos se multiplicam com enorme rapidez".
Segundo Vítor Constâncio, a divulgação dos números previstos para a economia alemã, que estimam uma queda do PIB na ordem dos 2,5 por cento, e o "colapso do comércio mundial" com a diminuição das exportações da China e do Japão são alguns dos desafios que o mundo enfrenta no início deste ano.
Um cenário grave que, de acordo com o governador do Banco de Portugal, pode justificar mais intervenções dos bancos centrais e dos governos sobre as economias mundiais.
"Apesar de as ajudas até agora anunciadas pelos Estados serem muito impressionantes, a verdade é que a história e algumas previsões recentes apontam para a necessidade intervenções ainda maiores", defende. Sobretudo porque os custos das crises financeiras anteriores para as economias nacionais ultrapassaram, em muito, o volume de ajudas actual.
Segundo Vítor Constâncio, estudos recentes mostram que as crises bancárias anteriores tiveram "enormes custos na economia e dívida pública". Além de provocarem quedas no PIB de 9,3 por cento, em média, e de se arrastam pelo menos por dois anos, os episódios históricos de crise caracterizaram-se por descidas de preços de 35 por cento no mercado da habitação e aumentos da dívida pública na ordem dos 86 por cento.
Vítor Constâncio defende que os custos das crises anteriores justificam intervenções ainda maiores dos Governos.