in Jornal de Notícias
O presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d'Oliveira Martins, denunciou este sábado a existência de uma "onda de aproveitamento" da crise para gerar mais desemprego, situação que tem na origem "a não assumpção das responsabilidades sociais".
"Vemos muitas situações em que percebermos que se está a aproveitar este momento para não assumir as responsabilidades sociais", acusou Guilherme d'Oliveira Martins no IX Encontro de Formação de Animadores Sócio-Pastorais das Migrações, que debate até domingo, em Fátima, o tema "Mobilidade global, uma oportunidade de missão".
Ao discursar sobre as implicações da crise global na mobilidade humana, o presidente do Tribunal de Contas avisou que "esta não é a crise do costume".
"A crise é muito mais grave do que se supunha à primeira vista", advertiu o responsável, sublinhando que ela parte do "coração da vida económica", o sistema financeiro.
O presidente do Tribunal de Contas apontou os "fenómenos de pura ilusão" que a crise colocou a descoberto, exemplificando com o caso Madoff e reportando, depois, à realidade portuguesa.
"Temos de adequar os nossos comportamentos à riqueza que temos, não viver acima das nossas possibilidades", observou.
Segundo Guilherme d'Oliveira Martins, "a crise é induzida pela aparência, ilusão de riqueza", cuja rápida transmissão deve ser encontrada na "globalização económica".
"É uma crise global, não podemos deixar de ter respostas articuladas", anotou ainda.
Para o ex-ministro das Finanças, a actual crise "coloca, nitidamente, a necessidade de equacionar os temas da coesão económica e social, da justiça e da confiança", mas reconheceu que a confiança "está seriamente afectada".
"Esta crise em que nos encontramos é a do desrespeito, é a crise de cada um por si", observou.
O presidente do Tribunal de Contas defendeu, por outro lado, que a preservação do emprego deve ser a "primeira prioridade" da crise, até porque esta "é condição fundamental de justiça e coesão social".
Quanto às pequenas e médias empresas, Guilherme d'Oliveira Martins lembrou que "têm de ser especialmente consideradas porque são menos visíveis", acrescentando que os investimentos públicos não podem "sacrificar as gerações futuras".
"Não podemos estar a agravar a conta dos nossos filhos e netos", afirmou.