30.1.09

Empresas travam aumentos salariais e congelam contratações para sobreviver à crise

Por Ana Rute Silva, in Jornal Público

Só em Janeiro foram anunciados, pelo menos, 1738 despedimentos em empresas portuguesas


Os salários no sector privado não vão aumentar, em média, mais do que 1,9 por cento em Portugal, segundo um estudo do Hay Group realizado entre Outubro de 2008 e Janeiro. As empresas desceram as previsões de aumentos de 3,2 por cento para quase dois por cento, seguindo uma tendência mundial.

O relatório Managing in a Downturn revela que 65 por cento das empresas de todo o mundo vão reduzir os aumentos ou congelar salários este ano. Quase metade das organizações tenciona despedir ou travar a contratação de novos trabalhadores. E as que planeiam dispensar pessoas apontam para cortes, em média, de 7,5 por cento da força laboral.

Só em Janeiro foram anunciados, pelo menos, 1738 despedimentos em empresas portuguesas. Contudo, tendo em conta "os baixos níveis de crescimento da economia, em Portugal as consequências em termos de empregabilidade não serão tão graves como no resto da Europa", disse Luís Reis, administrador delegado do Hay Group.

Ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, os aumentos previstos para 2009 vão beneficiar mais as funções administrativas e operacionais, que, segundo a consultora, vão beneficiar de subidas de 2,2 por cento. Os executivos - a quem as empresas previam aumentar 3,8 por cento - vão ganhar mais 1,5 por cento. Luís Reis acredita que, na prática, as subidas salariais vão ser maiores.

Cortes em formação, horas extraordinárias e congelamento das progressões automáticas serão as medidas mais visíveis no universo nacional, num ano em que a prioridade é para manter os postos de trabalho. "Essa é a maior preocupação. A capacidade para voltar ao activo depois de um despedimento é mais difícil. E do ponto de vista do empregador é fundamental não deixar sair os melhores", continua Luís Reis.

A nível global, os programas de formação estão a sofrer reduções e a ser eliminados em 16 por cento das empresas. Cerca de 11 por cento fizeram cortes nas horas extraordinárias e 17 por cento deixaram de recorrer a subcontratações. Num ano em que os salários pouco vão aumentar, os benefícios (como seguros médicos ou planos de pensões) vão servir de instrumento para motivar os trabalhadores. "A perspectiva até é de aumentar, numa política de compensação para manter, de alguma forma, as pessoas motivadas", afirmou Luís Reis. Cerca de nove por cento das empresas admitem aumentar o investimento neste tipo de retribuição não monetária.

As expectativas estão em baixa e é no retalho que se esperam resultados financeiros mais fracos: 63 por cento dos inquiridos não esperam melhores dias devido à redução no consumo e às restrições no acesso ao crédito. Face a Março de 2008, altura em que o Hay Group realizou um estudo semelhante, duplicou o número de empresas que esperam resultados de negócio abaixo das previsões feitas o ano passado.

As conclusões da consultora são baseadas nas respostas de 2589 empresas de todo o mundo.

Aumentos e saídas

1,9 por cento
No sector privado os salários vão aumentar, em média, 1,9 por cento. As empresas portuguesas vão travar as progressões automáticas e cortar nas horas extraordinárias.

48 por cento
Congelar as contratações e despedir trabalhadores é uma medida assumida por 48 por cento das empresas de todo o mundo.

1738
Desde Janeiro que foi anunciado o despedimento de, pelo menos, 1738 trabalhadores em Portugal.

9 por cento
Benefícios como o seguro de saúde servem para motivar em tempo de crise. Cerca de nove por cento admite aumentar este tipo de retribuição em 2009.