29.1.09

Crescimento vai ser o mais lento desde a Segunda Guerra Mundial

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Não há ponto do globo que escape à crise. A crise financeira continua por resolver e a economia mundial está parada, avisa a instituição


À medida que vai subindo a factura que os bancos têm de pagar pelos activos tóxicos que acumularam, descem as previsões de crescimento para a economia mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) viu-se ontem forçado, mais uma vez, a realizar uma revisão muito forte das suas projecções de crescimento económico para todo o planeta, colocando o globo próximo de uma estagnação em 2009 e estimando em 2200 mil milhões de dólares o montante total das perdas a suportar pelo sector bancário durante esta crise, mais do dobro do que já foi registado até agora.

De acordo com os relatórios ontem divulgados pelo FMI, a economia mundial deverá registar, este ano, um crescimento de apenas 0,5 por cento. Este valor será, caso se confirme, o mais baixo desde a II Grande Guerra, o que revela a forma como os problemas, iniciados nos EUA, se espalharam por todos os pontos do globo.

O cenário mais sombrio, para 2009, está na Europa. O Reino Unido e a Alemanha vão ser, entre as maiores potências mundiais, as economias com contracções mais fortes, de 2,5 e 2,8 por cento respectivamente. Para estes dois países, o Fundo não previa um recuo maior do que um por cento há apenas dois meses atrás.

Para a Zona Euro, a correcção das projecções levou de uma estimativa inicial de contracção da economia de 0,5 por cento para dois por cento agora. Nos EUA, de um recuo de 0,7 por cento para 1,6 por cento.

Para Portugal, tal como acontece para todos os países de pequena e média dimensão mundial, o Fundo Monetário Internacional não efectuou qualquer revisão. Esta fica reservada para a apresentação, dentro de cerca de três meses, das previsões de Primavera desta instituição.

Emergentes travados

A deterioração significativa dos indicadores de actividade, confiança e emprego, que se tem registado na generalidade das economias é a principal justificação para o Fundo ter decidido, de forma excepcional, colocar agora em valores mais baixos as suas previsões de crescimento.

E não foram só os países desenvolvidos a serem afectados por este maior pessimismo. As economias emergentes e em desenvolvimento, que o Fundo previa poderem vir a crescer a uma taxa de 5,1 por cento este ano, afinal, apontam as novas estimativas, não conseguirão mais do que 3,3 por cento, bastante menos do que os 6,3 por cento de 2008. Entre os denominados BRIC, o Brasil, a China e a Índia vão ter um abrandamento mais forte do que o esperado e, no caso do gigante asiático, com uma taxa de crescimento de 6,7 por cento, fica-se cada vez mais distante dos oito por cento considerados necessários pelas próprias autoridades para evitar um aumento do desemprego e da instabilidade social. Na Rússia, espera-se uma retracção da economia, estimada em 0,7 por cento.

As perdas dos bancos


Se a crise económica está claramente instalada, a crise do sector financeiro está ainda longe de ser ultrapassada. Em Outubro, o FMI calculava que os bancos iriam ter de registar nas suas contas perdas de 1400 mil milhões de dólares devido aos activos tóxicos que têm no seu balanço. Afinal, com novos dados e refeitas as contas, as perdas poderão chegar aos 2200 mil milhões de dólares.

Este valor é o dobro daquilo que já foi revelado e assumido pelo sector bancário, um sinal de que o FMI ainda está à espera de muitas más notícias por parte dos bancos, nomeadamente com a necessidade de aumentar os capitais em pelo menos 500 mil milhões de dólares.

Toda esta situação constitui um risco assinalável para a já muito lenta economia mundial. "Se os fortes constrangimentos e incertezas no sistema financeiro não forem enfrentados decisivamente, ir-se-á intensificar o efeito negativo entre a actividade real e os mercados financeiros, levando a um impacto ainda mais tóxico para a economia", alertou ontem o FMI.