29.1.09

Desemprego sobe, economia cai

Virgínia Alves e João Paulo Madeira, in Jornal de Notícias

Organizações internacionais voltaram ontem a apresentar novas previsões para 2009, agravando ainda mais as expectativas económicas


Um total de 230 milhões de desempregados em todo o mundo durante este ano será o resultado do pior cenário previsto pela Organização Internacional do Trabalho, que é o de mais 50 milhões de pessoas no desemprego, face a 2007.

O relatório ontem divulgado aponta um desfecho alternativo, menos negativo, que prevê que o número de pessoas empregadas diminua entre 18 a 30 milhões de pessoas.

Recorde-se que o último relatório da OIT foi apresentado em Outubro e nessa altura as previsões apontavam para um aumento do desemprego na ordem dos 20 milhões de pessoas, número que agora, três meses depois, a organização revê em alta.

O pior desfecho, refere o documento, concretizar-se-á "se a situação continuar a deteriorar-se". O director-geral da OIT, Juan Somavia, frisou ainda que "a mensagem não pretende ser alarmista, mas sim realista. Estamos perante uma crise global no emprego. Muitos governos sabem disso e estão a tomar medidas, mas são necessárias acções mais decisivas coordenadas ao nível internacional para evitar uma recessão social global".

Além disso, frisou que os países do G20 que vão reunir-se em Abril, em Londres, devem acordar, "além de medidas financeiras, medidas urgentes a tomar para promover o investimento produtivo e os objectivos de trabalho decente e de protecção social".

Além do aumento do desemprego, o relatório dá conta que "mais de 200 milhões de pessoas, a maioria nas economias em desenvolvimento, poderão vir acrescentar aos trabalhadores extremamente pobres", isto no pior cenário. Além disso, estima que o número de trabalhadores com empregos vulneráveis cresça e possa atingir 53% do total da população empregada.

Fazendo a discriminação por regiões, o relatório da OIT alerta para o facto de a taxa de desemprego das economias desenvolvidas e da União Europeia deverem aumentar este ano, podendo chegar aos 7,9% (isto, no cenário mais pessimista, o menos mau aponta para os 7,1%), quando em 2007 era de 5,7% e no ano passado foi de 6,4%.

No pior desfecho, o número de desempregados nestas economias será de 40 milhões, mais oito milhões do que em 2008.

E será ainda nas economias desenvolvidas, UE, Ásia Oriental e o Sul da Ásia, onde se registará o maior número de desempregados, totalizando todas 126 milhões de pessoas sem emprego.

Recessão na Zona Euro pior do que era esperado

Nos tempos que correm, cada nova previsão económica de um organismo nacional ou internacional tende a piorar o cenário antecipado anteriormente. As projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas ontem, não foram excepção. A instituição prevê que a Zona Euro registe uma recessão de -2%, este ano, contra os -0,5% indicados em Novembro.

A actualização das projecções económicas do organismo antecipa que o crescimento mundial seja de 0,5% este ano, o valor mais baixo desde a Segunda Guerra Mundial. O FMI considera que os mercados financeiros continuaram a viver sob condições "extremamente difíceis" e que devem continuar sob "tensão" em 2009.

"Nas economias avançadas, as condições de mercado devem continuar difíceis até que sejam implementadas iniciativas energéticas para reestruturar o sector financeiro", refere o relatório da organização, que apela a mais ajudas públicas para mitigar as perdas das empresas.

O FMI sublinha a incerteza em torno das projecções, já que subsistem riscos adicionais de contracção económica. Os pacotes de estímulos económicos lançados em várias zonas económicas são, para o FMI, insuficientes. A instituição calcula que o sistema financeiro mundial necessite de mais 500 mil milhões de dólares (379 mil milhões de euros) para se recapitalizar e que os bancos e outras instituições financeiras detenham 2,2 biliões de dólares em activos de crédito tóxicos (1,7 biliões de euros).

A necessidade de mais intervenções públicas não deve impedir algumas precauções. "Embora a política orçamental esteja a ser um importante apoio de curto prazo, o aumento agudo da emissão de dívida pública pode gerar uma reacção adversa no mercado, a menos que os governos clarifiquem a estratégia para assegurar a sustentabilidade a longo prazo", refere o relatório.

O FMI recomenda, sobretudo aos países com pouca margem orçamental, que os estímulos económicos sejam feitos através de medidas temporárias, reversíveis e focadas na estabilização do sistema financeiro.

Numa entrevista que será publicada hoje no semanário alemão "Die Zeit", o director-geral do FMI, Dominique Strauss-Khan, diz, citado pela Lusa, que "actualmente, é mais eficiente consagrar um euro ao sector bancário do que gastá-lo em pontes ou estradas".