in Diário dos Açores
Uma investigadora da Universidade de Aveiro disse ontem, na Marinha Grande, que 75% das famílias multiproblemáticas pobres nunca deixarão de o ser, apesar da intervenção social.
"Estes números não são oficiais. Não vêm em nenhuma fonte do Instituto Nacional de Estatística. São dados que resultam da nossa percepção que vamos tendo do contacto, da prática e da investigação", afirmou Sofia Rodrigues, especialista em questões de pobreza.
A investigadora está a ministrar uma acção de formação de três dias a 25 técnicos de Acção Social de câmaras municipais e de instituições de solidariedade sobre estratégias de sucesso na intervenção em famílias multiproblemáticas pobres.
Trata-se de uma iniciativa do Núcleo Distrital de Leiria da Rede Europeia Anti-Pobreza, no âmbito do projecto "O combate à pobreza começa localmente".
Sofia Rodrigues definiu famílias multiproblemáticas pobres como aquelas que apresentam "múltiplos problemas severos que afectam vários elementos da família, vividos em simultâneo e/ou sucedendo-se".
São exemplos desses problemas a negligência, o alcoolismo, a delinquência, a depressão, os maus-tratos e a violência doméstica, mas também a prostituição, delinquência, insucesso escolar, doenças crónicas e deficiências.
Segundo a especialista, este tipo de famílias são "cerca de 6% das que recorrem aos serviços de protecção social", um número que, embora tenha admitido ser pequeno, "absorve 50% dos serviços e do tempo dos técnicos".
A psicóloga explicou mesmo que "estes casos arrastam-se no sistema formal durante anos ou décadas".
Para Sofia Rodrigues, um factor de sucesso na estratégia de intervenção em famílias multiproblemáticas pobres passa pelo estabelecimento de uma "relação de confiança" entre técnicos e envolvidos.
"E essa relação de confiança inclui responder às necessidades materiais destas famílias", destacou a investigadora, que desafiou os técnicos a olharem "para competências e recursos" e não apenas para os factos negativos com os quais se defrontam as pessoas.
A psicóloga reconheceu ainda que casos de famílias multiproblemáticas pobres "tornaram-se mais visíveis" nos últimos tempos devido ao facto de a resposta social ter evoluído.
Sem dados para poder assegurar que estas situações têm aumentado, Sofia Rodrigues admitiu, no entanto, que haverá casos "escondidos e mesmo envergonhados".