Pedro Garcias, in Jornal Público
Em 1996, a CGTP representava 765 mil trabalhadores, mas, em 2008, o número de sindicalizados tinha baixado para 727 mil. Já a UGT registava um acréscimo de 10 mil sindicalizados entre 2004 e os primeiros meses deste ano, representando, segundo João Proença, "um pouco mais de 500 mil" trabalhadores
A Os sindicatos ganham ou perdem força em contextos de crise, com o desemprego a subir de dia para dia? "À partida, as condições são favoráveis a um reforço do poder dos sindicatos. No entanto, quando o desemprego e a precaridade emergem, os trabalhadores tendem a pensar que, manifestando-se ou inscrevendo-se no sindicato, ficam mais frágeis e sujeitos a sofrer retaliação e, no caso dos precários, com medo de obter emprego", advoga Carlos Silva, professor da Universidade do Minho com grande intervenção nas questões do trabalho.
António Dornelas, professor do ISCTE e coordenador do último Livro Verde sobre as Relações Laborais, não tem dúvidas de que "o aumento do desemprego faz reduzir o poder dos sindicatos". "Mas não faz reduzir o peso de todos na mesma proporção. Depende da estratégia de cada um deles", sublinha, dando como exemplo a forma "muito diferente" de actuar das duas centrais sindicais. "A UGT tem-se tornado mais sensível no desenho das políticas públicas activas de concertação social", afirma.
O líder da UGT, João Proença, admite que o momento "é difícil". "A História mostra-nos que nos períodos de crise a sindicalização diminui", reconhece, sublinhando, porém, que é nestas alturas que os sindicatos "reforçam a sua intervenção". "Isto é sempre muito contraditório e varia de sindicato para sindicato. Há muitos trabalhadores que se desvinculam e que têm medo de se ligarem aos sindicatos, com receio de perderem o emprego; mas há outros que, nestas alturas, recorrem aos sindicatos, para defenderem os seus direitos ou porque se sentem desprotegidos", acrescenta Proença.
As maiores dificuldades notam-se nos sectores mais atingidos pela crise: indústria, serviços, comércio e sector financeiro. De resto, foi nestes últimos sectores que a UGT perdeu mais filiados. Em contrapartida, o acréscimo de filiados concentrou-se praticamente na administração pública, na Saúde e na Educação.
Esta tendência não surpreende Elísio Estanque, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade de Coimbra. "Os sindicatos crescem nos sectores mais estáveis [ligados ao Estado] e no sector dos serviços", diz.
Este especialista chama a atenção para o facto de ser a classe média "que mais tem aguentado o sindicalismo", até porque "o operariado está em declínio". As últimas grandes manifestações dos professores mostram que é naquela franja da sociedade, "a que mais tem vindo a perder com as mudanças na administração pública", que reside o "último bastião do sindicalismo em Portugal", advoga.
Para este responsável, "a imagem dos sindicatos juntos dos trabalhadores está muito degradada" e a tendência é para "que surjam novas redes, novos movimentos de defesa dos trabalhadores". Até porque os patrões portugueses "dão cada vez menos importância à diversidade interna" e à existência de organizações representativas dos trabalhadores, "fundamentais para a regulação do conflito interno". Esta tendência, "muito influenciada pela globalização", leva os trabalhadores a "auto-reprimirem-se, com medo de entrarem na lista negra e serem descartados", diz Elísio Estanque. Mas, à medida que a pressão for aumentando, aumenta também a "vontade de explodir", e é provável "que venhamos a assistir a algumas explosões sociais", vaticina.