Nuno Ribeiro, Madrid, in Jornal Público
Depois da manifestação conjunta em 2000, ontem, Carvalho da Silva e João Proença voltaram a manifestar-se juntos, mas desta vez em Madrid
A CGTP e a UGT participaram ontem na euromanifestação de Madrid, uma iniciativa da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) contra a crise e pelo emprego.
Participaram no desfile 50 mil sindicalistas de Espanha, Portugal, França, Itália, Bélgica, Turquia e Andorra. De Portugal, as duas centrais convocaram 1900 sindicalistas para as ruas madrilenas.
"Fomos os primeiros a fazer manifestações conjuntas em Portugal no ano 2000, foi no Porto com 80 mil pessoas", recorda ao PÚBLICO Manuel Carvalho da Silva, da CGTP. A seu lado, no Passeo de la Castellana, à porta do café Gijón, local de concentração da participação sindical portuguesa na euromanifestação da CES, está João Proença, da UGT. "A crise da globalização é a crise dos que defendiam menos Estado, não estamos perante uma crise de competitividade salarial mas face à crise do capitalismo sem regras", observa Proença. Por isso, o dirigente da UGT considera ser "fundamental reforçar a dimensão europeia da luta dos sindicatos".
"Estamos perante uma crise grave do sistema que, prolongando-se, se pode transformar numa crise da civilização", adverte Carvalho da Silva. Feito o diagnóstico, há outra certeza. "Enquanto a proposta for de precariedade, desemprego, baixos salários e menos direitos não há saída para a crise", sustenta o líder da CGTP.
"Pelo emprego", lê-se em letras brancas sobre fundo vermelho, num dos cartazes das Comissões Operárias de Espanha. A cor que domina a emblemática Castellana é o vermelho, com os cartazes da UGT espanhola, da Force Ouvrière, CFDT e CGT francesas, dos italianos da CGIL e da CISL a desfilarem ao som do rufar de tambores e dos apitos.
Entre as bandeiras dos países representados na primeira das quatro euromanifestações convocadas pela CES, a presença de algumas insígnias da antiga República espanhola.
Momentos antes do desfile, também em Madrid, Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, considerou numa conferência que os sindicatos têm um dilema. "Optar por uma cultura de confronto ou de negociação", sublinhou.
"Os sindicatos a nível europeu optam pela negociação", responde João Proença. "Infelizmente, a Comissão tem falhado em estabelecer o diálogo social, pretendeu organizar uma grande cimeira de emprego que, afinal, se transformou numa simples troika", lamentou o dirigente da UGT de Portugal.
Uma falta adequada de resposta que levou ao protesto de Madrid e às manifestações programadas pelo CES para amanhã em Bruxelas e, no sábado, em Praga e Berlim. O que parece ser o início de uma nova fase reivindicativa. Um protesto de três dias em quatro capitais europeias que, para além da participação de centrais sindicais de 22 países europeus, congregou outras organizações. Em Madrid, a Aliança Espanhola contra a pobreza associou-se ao desfile, apoiando o fim dos paraísos fiscais e a erradicação da pobreza.