7.5.10

Alunos também aprendem o que é a violência no namoro

Por Bárbara Wong, in Jornal Público

Palestras sobre diversos temas ligados à saúde são uma das formas seguidas por uma escola de Setúbal para trabalhar a educação sexual


Quando os estudantes do 8.º, 10.º e 11.º anos entram no pequeno auditório da secundária Lima de Freitas, em Setúbal, a sala está escurecida e no quadro branco a imagem projectada tem um fundo vermelho de onde saem algumas palavras a preto: "Quebra o silêncio... Ama sem violência". A violência no namoro é o tema que dá o mote para as próximas duas horas e surge no âmbito da aplicação da Lei sobre a Educação para a Saúde, publicada recentemente.

A secundária Lima de Freitas é já uma veterana a aplicar a educação sexual em meio escolar e há vários anos que tem um gabinete aberto aos alunos para esclarecer dúvidas, conversar e "desabafar", explica a professora Paula Peralta, responsável pela equipa de promoção e educação para a saúde do estabelecimento de ensino. Ao longo dos anos, a escola tem encontrado vários parceiros com quem tem trabalhado, do centro de saúde ao programa da PSP Escola Segura.

No auditório, Luz André, comandante da 1.ª Esquadra da PSP de Setúbal, inicia uma conversa com os alunos sobre o tema do dia. Sentado atrás do computador, a passar a apresentação, está o chefe João Martins e a seu lado permanece de pé o agente Nuno Grise, que os alunos conhecem do Escola Segura e a quem se dirigem com algum à-vontade.

A violência no namoro não é mais do que violência doméstica, começa por dizer a comandante, e tem que ser denunciada de maneira a ser punida. Luz André vai desfiando os factores que levam o agressor a agir e a vítima a desculpar. Os exemplos são reais e já passaram pelas mãos da comissária. "Lembra-se, Grise?", pergunta a comandante, depois de contar que apanharam um homem em flagrante delito a agredir a mulher com um ferro de engomar quente e que esta, pouco tempo depois, pediu para retirar a queixa e culpava-se a si própria pela situação. Mas a comissária sabe que está a falar com jovens, todos maiores de 16 anos, e diz-lhes: "As raparigas são muito crédulas e acreditam que as crises de ciúme significam que o namorado as ama muito. O amor tem que ser uma coisa mais bonita, que não meta agressão ou violência".

Luz André e, mais tarde, Sónia Reis, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, insistem que estas agressões, sejam físicas ou psicológicas, têm que ser denunciadas. "Quem tiver conhecimento de que um namorado agrediu a namorada tem a obrigação de denunciar", repete a comissária.

Diferentes abordagens

De início, os alunos mostram-se pouco participativos e sem dúvidas. Mas, a pouco e pouco, começam a intervir, especialmente quando Sónia Reis mostra algumas frases: "Quanto mais te bato, mais gosto de ti", "Entre marido e mulher, ninguém meta a colher" ou "O casamento é para toda a vida". No burburinho da sala começam a ouvir-se algumas vozes femininas: "Isso é que era bom!". Os poucos rapazes que estão na sala permanecem calados. Mas é a pedofilia que faz soltar mais as línguas. As turmas já estão conversadas sobre a violência no namoro e fazem perguntas sobre as crianças e os abusadores.

O fim aproxima-se e Paula Peralta faz um convite: "Venham ter connosco ao gabinete para conversar sobre o que quiserem". Há alunos que ficam para trás para agendar um encontro ou tirar alguma dúvida.

A sessão terminou e Luz André explica que a PSP não intervém só quando há problemas - pelo contrário, também é uma força de prevenção. Por isso, estas idas às escolas são importantes não só para falar sobre violência no namoro, mas da violência nos recreios ou outras questões de segurança.

Do 1.º ao 12.º ano, todo o agrupamento da Lima de Freitas está a trabalhar a educação para a saúde, adequando-o a cada ciclo. O 1.º ciclo, por exemplo, está fazer acções sobre saúde oral e os alunos do 2.º trabalham a alimentação. "A reacção dos professores tem sido boa", confirmam Paula Peralta e outros três docentes que têm trabalhado mais activamente com os alunos e com outros colegas.