17.5.10

Continente suprimiu 1100 empregos após o Natal

por Maria João Espadinha, in Diário de Notícias

Sonae cortou postos de trabalho por não abrir aos domingos à tarde. Dis- cussão voltou ao Parlamento com PCP a propor fecho total das grandes superfícies naquele dia.

Caso as grandes superfícies tivessem liberdade de horários aos domingos, os hipermercados criariam mais dez mil empregos nos próximos dez anos. No entanto, há cadeias que têm de prescindir dos seus trabalhadores devido à legislação que define o encerramento destas lojas a partir das 13.00. É o caso do Continente, que no final de 2009 teve de dispensar 1100 trabalhadores por este facto.

Paulo Azevedo, presidente executivo da Sonae, explica isto mesmo no relatório e contas da empresa: o Continente é "a única das cinco principais cadeias de venda de produtos alimentares em Portugal que é obrigada a encerrar aos domingos à tarde. Devido a este facto, fomos novamente obrigados a suprimir 1100 postos de trabalho no fim da época do Natal".

O gestor acrescenta ainda, no mesmo documento, que se trata de uma lei que "prejudica gravemente a concorrência e foi já provado que é totalmente injustificada, na medida em que não alcança os resultados para os quais foi promulgada".

A discussão não é de hoje, mas voltou à agenda com a proposta do PCP para encerrar totalmente as grandes superfícies ao domingo, que foi chumbada no Parlamento. Antes, o Bloco de Esquerda tinha feito proposta semelhante.

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) estima que seriam eliminados 8500 postos de trabalho caso esta proposta tivesse sido aprovada. "Não se percebe como é que dois partidos defensores do emprego defendem uma teimosia política. Porque não é uma questão económica, é política, é uma atitude muito fechada, até jurássica, que vem do passado das estruturas mais tradicionais do comércio", afirma ao DN José António Rousseau, secretário-geral da APED.

Para este responsável, a justificação da defesa do comércio tradicional como argumento para manter o encerramento das grandes superfícies ao domingo não é válida, pois "as lojas que fazem concorrência estão abertas", já que cadeias como o Pingo Doce ou o Modelo podem funcionar naquele dia. Para o sector, afirma José António Rousseau, é "menos um mês de vendas" que se factura por ano devido ao encerramento, além de que, com a liberalização de horários, haveria mais receitas para o Estado ao nível de impostos e seriam criados seguramente mais empregos.

Posição contrária tem a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que afirma que o "alargamento dos horários ao domingo não se traduz no aumento do emprego", mas sim "numa nova gestão dos recursos humanos com transferência de pessoal de períodos com menor fluxo de clientes para os novos horários de abertura". "A comprovar esta realidade está o facto de o emprego no sector do comércio estar praticamente nos níveis do ano 2000 (751 mil empregos no quarto trimestre de 2000 e 753 mil em idêntico trimestre de 2009), não obstante terem sido licenciados mais de dois milhões de metros quadrados de grandes unidades", explica João Vieira Lopes, presidente do CCP.

Quanto à ameaça aos pequenos comerciantes, a CCP diz que "não é indiferente" a abertura ou fecho das grandes superfícies, pois "estas lojas têm quase 30% da facturação no sector alimentar". "É importante perceber que, apesar de todas as dificuldades e muitos encerramentos, manteve-se no pequeno comércio alimentar uma dinâmica que permitiu que estas pequenas empresas mantivessem uma quota de mercado superior à verificada nos outros países europeus", explica o responsável, acrescentando que em Espanha, por exemplo, o comércio tradicional ganhou "5% de quota de mercado com as restrições ocorridas em matéria de horários". "Estamos obviamente a falar de muitos milhões de euros", conclui.