Por Ana Cristina Pereira, in Jornal Público
A resposta social está prevista desde 1991, mas não conquistou muitos adeptos pelo país fora. No final do ano passado, havia 775 famílias a acolher 1443 idosos ou adultos com deficiência; em Lisboa ninguém. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai agora tentar esta via.
Poucos saberão que existem no seio de famílias, tidas como idóneas, idosos ou adultos com deficiência que não podem permanecer no seu próprio lar. Esta nunca foi uma aposta da Segurança Social. A opção estratégica fez-se pelos lares e pelo apoio domiciliário.
Há dois anos que a Santa Casa da Misericórdia - que em Lisboa assume grande parte das tarefas que no resto do país cabem ao Instituto de Segurança Social - pensa em criar esta resposta. Só este ano, porém, terá reunido condições para avançar. O plano, agora, é sensibilizar os residentes em Lisboa para as necessidades dos mais velhos - cada vez em maior número.
A campanha de divulgação está prestes a arrancar. Missão: captar indivíduos com princípios e valores associados à solidariedade humana e à responsabilidade social. Eis um exemplo das mensagens a passar: "O papel das famílias de acolhimento é contribuir para apoiar idosos e adultos deficientes a sentirem-se mais protegidos e apoiados nas suas necessidades".
Se o apelo humanitário não funcionar, talvez as contrapartidas financeiras consigam: cada família de acolhimento recebe, no mínimo, 447,27 euros por idoso (225 de retribuição e 222,27 de manutenção) e não 622 euros por mês, como já se noticiou. No caso de alguém com elevado grau de dependência, o valor sobe para o dobro. Embora se deseje evitar famílias que possam encarar os idosos como uma mera fonte de rendimento. Basta ver os requisitos para o entender: "Ter sensibilidade para a problemática do envelhecimento ou da deficiência; ter estabilidade familiar, capacidade afectiva e capacidade económica mínima; apresentar equilíbrio no plano da saúde física e mental; possuir habitação com adequados requisitos de habitabilidade e acessibilidade; estar disponível para frequentar acções de formação prévia e contínua promovidas pela Santa Casa".
Não se pense que se irá pegar em residentes em lares da Santa Casa e passá-los para famílias de acolhimento. O que se pretende é evitar ou retardar o recurso à institucionalização de quem ainda não o foi. A resposta não será imposta. O idoso ou deficiente terá de aceitar, por escrito, ir morar com uma família seleccionada pela Santa Casa. E haverá um período para acolhido e acolhedores se conhecerem, se adaptarem.