2.5.10

PEC terá uma "forte contestação social"

Por Margarida Gomes e Tânia Marques, in Jornal Público

Milhares de pessoas estiveram ontem nas ruas no Porto e em Lisboa para comemorar o Dia do Trabalhador. A CGTP marcou para o dia 29 de Maio uma grande manifestação nacional

Contra o PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) marchar, marchar. Esta foi a mensagem deixada ontem pelo coordenador da União dos Sindicatos do Porto (USP) e membro da comissão executiva da CGTP-IN, João Torres, na intervenção que fez no comício-festa do 1.º de Maio, na Avenida dos Aliados, na Baixa portuense. Avisando que vem aí contestação social, João Torres declarou: "O PEC, que representa um sério risco para todos nós, vai merecer uma forte contestação social [porque] aumenta o desemprego e as precariedades".

"Este PEC significa mais privatizações e mais sectores estratégicos nas mãos do grande capital para o seu jogo especulativo, agravando os problemas estruturais da economia", disse, advertindo que a contestação vai incluir "de tudo".

Perante milhares de pessoas que assistiam ao comício, o dirigente da CGTP pediu mobilização ao anunciar "uma grande manifestação nacional", em Lisboa, para o dia 29 de Maio, para que "a uma só voz" se exija "um novo rumo com a luta de quem trabalha". Em Lisboa, a mesma manifestação foi anunciada pelo líder da CGTP, Carvalho da Silva.

Agitando com o número de quase 600 mil desempregados que Portugal regista, João Torres criticou "os lucros fabulosos de algumas empresas e remunerações principescas de alguns executivos" e declarou que "o país está a ser vítima dos especuladores". Alertou, depois, para o défice público, pediu mudança de medidas e afirmou: "É preciso ir buscar dinheiro a quem o tem: paraísos fiscais! Aos que ostentam riqueza! Aos que fogem aos impostos! Aos que vivem de actividades especulativas! Aos que enriquecem ilicitamente! Aos corruptos, corrompidos e corruptores!".

Depois virou a agulha na direcção do Presidente:" O que é que ele fez enquanto primeiro-ministro para defender a nossa frota pesqueira, a nossa indústria naval e a nossa marinha mercante? (...) Nós respondemos-lhe: não fez nada, ou melhor, ajudou a afundar essas importantíssimas actividades económicas".

Terminado o comício, milhares de pessoas desfilaram pela Baixa, gritando palavras de ordem. "Sócrates, escuta, os trabalhadores estão em luta", "desemprego em Portugal é vergonha nacional", ou ainda "é preciso que isto mude, emprego para a juventude". Quem marcou presença foram os trabalhadores "a recibo verde", os chamados precários. Juntaram-se ao desfile na Rua de 31 de Janeiro. Eram muitos, cheios de energia e criatividade. No momento em que se juntaram houve algum sururu nas hostes da CGTP, mas a sua participação acabaria por acontecer sem incidentes. A polícia estava atenta e evitou polémicas. À frente, ouviam-se as tradicionais palavras de ordem próprias do 1.º de Maio, atrás, os precários contagiavam com a sua criatividade. "É preciso protestar com alegria, com imaginação", resumia o ex-deputado do BE João Teixeira Lopes.

Assobios a Sócrates

Em Lisboa, 120 anos depois da "saída para a rua" dos operários de Chicago, a CGTP voltou à Praça do Martim Moniz, para a partida da luta pelos direitos laborais. 14h30 foi a hora marcada para a concentração, mas só mais de uma hora depois é que teve início a marcha. Nesse espaço de tempo, ouvem-se músicas de Abril, gritos que apelam à luta laboral e que persistem no tempo, e tenta-se por tudo que os milhares de manifestantes se organizem. Afinal, numa manifestação de trabalhadores, também tem de haver orientações, como nos locais de emprego.

Embora a maioria dos participantes seja de pessoas com mais de 40 anos, a InterJovem também se fez ouvir. Pedro Ferreira tem 29 anos e desde os seus tempos de estudante - ainda sem ter atingido a maioridade - já se manifestava pelas causas dos jovens. "Tenho participado em muitas manifestações, e enquanto jovem sinto-me na obrigação de dizer que os problemas no ensino e a precariedade laboral, não têm ajudado à juventude portuguesa", afirma.

Dá-se então a tradicional marcha até à Alameda D. Afonso Henriques. Pelo percurso ouvem-se "frases feitas" como "É preciso que isto mude, empregue para a juventude" ou "Injustiças sociais, arre, porra, que é de mais". Pelas ruas, os curiosos aproximam-se ao avistar os carros "alegóricos" com mensagens tão criativas como "este Governo cheira a mofo". O desfile acaba pouco depois da hora prevista, 16h40.

Toda esta movimentação só se dá por concluída quando aparece o líder da CGTP, Carvalho da Silva, com um discurso da comemoração dos 40 anos da Intersindical, mas também com as habituais críticas ao Governo e ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC).

"O PEC é uma política cega e de consolidação orçamental que pode conduzir ao desastre", refere, enquanto os manifestantes assobiam quando Carvalho da Silva menciona o nome de Sócrates. "Merece mais assobios, muitos mais", ironiza o secretário-geral.