Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Estudo inédito da CCDR-N avaliou emprego e desemprego regional ao longo de uma década
Em apenas um ano, 58 mil pessoas perderam o emprego, no Norte. Vêm, sobretudo, da indústria, pouca escola têm, poucas qualificações acumularam. Apanhado a meio da reforma da sua maneira de trabalhar, o Norte deveria ter políticas desenhadas à medida.
A conclusão é de Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N), e decorre dos dados apurados pelo Observatório das Dinâmicas Regionais num estudo inédito em que as dinâmicas do emprego e do desemprego são analisadas ao longo de uma década (ver radiografia ao lado): o Norte foi apanhado entre uma nova maneira de fazer as coisas - com mais valor acrescentado e virada para a exportação - e os hábitos antigos, de fabricar para outras marcas produtos que só eram baratos porque se pagavam salários muito baixos. Enquanto uma vai morrendo e a outra não se afirma, são muitos os milhares de pessoas apanhados no meio: as velhas indústrias fecharam e deixaram-nas no desemprego, sem saber (e muitas vezes com pouca capacidade para aprender) a trabalhar num mundo diferente.
O que fazer a estas pessoas é pergunta a que Carlos Lage confessa não ter resposta. Olha, antes, para o caminho que o Norte percorria antes de ser apanhado em cheio pela crise do ano passado: políticas públicas que incentivam empresas e trabalhadores a ser mais criativos, mais inovadores e mais qualificados. "É um esforço conjunto", diz Carlos Lage, mas que exigirá da parte do Governo central outra postura. "O Governo deve ter uma percepção diferente do Norte, dos seus problemas mas também das suas potencialidades", afirmou. Lage critica as posturas "de queixas e reivindicações".
Mas sente que "as políticas regionais ou são difusas ou inexistentes". Por exemplo, se o Norte está a criar pólos de desenvolvimento em torno da Saúde, então o investimento estrangeiro captado pelo Governo nesta área de negócio deve ser canalizado para a região; ou os centros de emprego, que devem estudar em pormenor a bolsas de desemprego existentes e estudar as áreas em que são precisas mais pessoas, para saber que formação profissional lhe deve dar, adiantou. Ou ainda a importância de realmente avançar com investimentos na área da logística, para a qual é fundamental a gestão autónoma do aeroporto de Sá Carneiro, acredita.
Enquanto o país vai tendo soluções iguais para problemas diferentes, o Norte - sobretudo 14 concelhos em torno do Grande Porto - continua confrontado com o maior desemprego do país. São 217 mil as pessoas que procuram trabalhar sem encontrar onde. E as previsões económicas dizem que 2010 será ainda pior.