12.5.10

Salário médio tem aumentado mais no Norte do que no resto do país

Por Abel Coentrão, in Jornal Público

Ter um curso compensa no Norte. Na região que em 2009 atingiu uma taxa-recorde de desemprego, este diminuiu apenas nos activos com formação superior


O século XXI vai deixando um rasto de mudanças tão estruturais quão socialmente dolorosas no Norte. Uma região que entra em quebra na segunda década do milénio, com um registo histórico de desemprego (11 por cento) e que perdeu num ano, entre 2008 e 2009, 58 mil postos de trabalho, quase o dobro dos 31 mil varridos das estatísticas durante a recessão de 2002 e 2003. Já sabíamos que, entre as duas crises, o PIB da região até crescera à custa de ganhos de produtividade, sem que o desemprego baixasse muito. E agora, através de uma análise do Observatório das Dinâmicas Regionais do Norte, ficamos a saber, também, que o salário médio da região está, desde 2006, a aproximar-se do salário médio do país. E que o grupo dos activos com formação superior foi o único em que o desemprego diminuiu no ano passado.

O relatório Emprego e Desemprego na Região do Norte não se fica pela análise do ano negro inscrito no título. Eduardo Pereira, o autor, e Rui Monteiro, director do Centro de Avaliação de Políticas e Estudos Regionais da Comissão de Coordenação do Norte, olharam mais para trás, e, entre muitas más notícias, notaram alguns factos que podem ser considerados positivos. A diminuição da disparidade entre o salário médio regional e o praticado no país é um deles, tendo em conta que decorre de um aumento das remunerações praticadas no Norte (710 euros, em média) superior ao crescimento desse indicador no resto do território português. Se, em 2006, a diferença era de 10,5 por cento, no ano passado passou a ser de 7,1 por cento.

Sendo o salário médio calculado com base nas remunerações dos activos empregados, um olhar para a estrutura do desemprego pode ajudar a perceber esta aproximação entre a região e o país. Seja pelos dados do Instituto Nacional de Estatística (217 mil desempregados residentes na região), seja pelos elementos do Instituto de Emprego (218 mil desempregados registados), sabemos que nesta zona do país estão dois quintos do total nacional de pessoas sem emprego. E, analisados os vários grupos de profissões, verificamos que "os três grupos de profissões de menor qualificação (operários, operadores de máquinas e não-qualificados) somavam, em 2009, mais de metade (55,2 por cento por cento, em média) dos desempregados inscritos nos centros de emprego".

Taxa de emprego é baixa

Ora, dos 58 mil postos de trabalho perdidos no último ano, 28 mil eram das indústrias transformadoras, onde se praticam os salários mais baixos. O subemprego, também ele mal remunerado, "perdeu expressão", depois de um período em crescendo, em que serviu para "disfarçar o desemprego". Acresce que tudo isto acontece numa fase em que o total da população activa residente até baixou - são menos 16 mil, desde 2007. Fica-se, assim, a compreender um pouco melhor o aumento do peso dos activos com qualificação média, cujo número, em absoluto, mais do que duplicou numa década.

Em 1999 havia no Norte pouco mais de 122 mil activos com um curso superior. Em 2009 eram já quase 269 mil. Representavam apenas 13,6 por cento (contra 6,7 por cento há dez anos), ainda que ter formação comece, pois, a fazer a diferença, pois a falta dela tem sido um dos problemas da região mais insistentemente apontados em todos os diagnósticos.

Como se pode ver também na forma como a última crise atingiu mais os activos com menores qualificações, deixando os licenciados como o único grupo em que o desemprego baixou (ver gráfico ao lado).

Outro dado que, para o observatório, aponta para uma mudança nas qualificações da população activa é a redução, desde 2003, do "prémio" salarial dos licenciados que, se nessa altura ganhavam mais do dobro do salário médio nacional, (125 por cento acima desse referencial), auferiam, em 2009, 87 por cento mais do que a média regional. No país, onde o proporção de licenciados face ao total de trabalhadores é maior, a situação é um pouco diferente. Um português com curso superior ganha em média 77 por cento mais do que o salário médio nacional.

Apesar destas mudanças positivas, e precisamente por causa da alteração do modelo económico (perceptível no gráfico em baixo, em que vemos como, mesmo crescendo a economia entre 2004 e 2008, o desemprego aumentou em quase todo o período) o Norte tem, e vai continuar a ter, pelas previsões, um problema de emprego. A relação entre a população empregada dos 15 aos 64 anos e a população residente do mesmo intervalo etário, designada como taxa de emprego, desceu a um mínimo de 64 por cento em 2009, afastando-se ainda mais do valor médio nacional (66,3 por cento). "Tanto para a região como para o país", estes valores da taxa de emprego "são os mais baixos" desde 1998, conclui o autor deste relatório agora divulgado.