Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Países que passam o limite do défice devem perder poder de decisão, diz Belmiro de Azevedo
"Os meninos que se portam mal, na escola, são castigados". Belmiro de Azevedo justificou assim a ideia de que quem não cumpre as regras do euro, como Portugal, deve perder alguma autonomia em favor de uma maior intervenção pela União Europeia.
Foi no final de uma conferência sobre o futuro da economia de Portugal e de Espanha, em tempo de crise, dada pelo economista espanhol Pedro Solbes na Escola de Gestão do Porto, que Belmiro de Azevedo lançou a afirmação: "Se a Europa não preservar o euro, custe o custar, pode desmoronar-se e causar uma crise social tremenda". Por isso, sabendo que a moeda única é o elemento de união mais importante do continente europeu, ele "deve ser defendido", ainda que isso implique "retirar capacidade de decisão aos países que quebram as regras". Em causa estão os limites impostos ao défice e à dívida pública.
O fundador da Sonae falava após a intervenção do antigo ministro da Economia espanhol e ex- comissário europeu, Pedro Solbes, para quem Portugal e Espanha ainda podem ser atingidos pela crise financeira grega. "Se pensarmos numa relação de causalidade, eu seria levado a dizer que não, mas nem sempre os mercados actuam com racionalidade", disse. Ou seja, afirmou, os mercados podem não valorizar o facto de, ao contrário da Grécia, Portugal ter estatísticas fiáveis, uma história de redução do défice bem sucedida e um plano de contenção aprovado por Bruxelas.
Em todo o caso, Solbes (que defendeu as regras do Euro quando foi comissário) entende que a longa crise económica prevista para alguns países deve ser considerada pela Comissão, quando punir os países com défices e dívidas demasiado altos. Aos Governos, pediu atenção à forma como gastam dinheiro. "A qualidade do investimento público será fundamental nos próximos anos".