5.5.10

Informar para o desenvolvimento

por Mário Contumélias, in Setúbal na Rede

Estamos no “Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza e a Exclusão Social”, uma iniciativa conjunta da Comissão Europeia e da Presidência espanhola, lançada no final de Janeiro passado, como o “Setúbal na Rede” oportunamente noticiou. Sabemos que há dias e anos para tudo e que, via de regra, passam mais ou menos despercebidos sem que se resolvam os problemas. Mas, desta feita, impõe-se que a oportunidade não se perca.

É que, neste mesmo ano, a Europa e alguns países em particular – como é o caso da Grécia, de Portugal, de Espanha – enfrentam condições difíceis no quadro da União Monetária Europeia, e avançam com medidas de controlo orçamental que debilitam o Estado Social e agravam claramente as já precárias condições de vida dos mais desfavorecidos e das classes médias.

Porque, apesar da União Europeia (U.E.) ser uma das regiões mais ricas do Globo, 17% do total da sua população (cerca de 80 a 85 milhões de pessoas) não tem os meios necessários para satisfazer as necessidades mais básicas, segundo dados obtidos antes desta conjuntura adversa. O que significa que, como revelou o Comissário europeu responsável pelo Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades, o checo Vladimír Špidla, na U.E., uma em cada seis pessoas enfrenta sérias dificuldades para fazer face às despesas de todos os dias. E a pobreza espreita e “pode afectar-nos a todos”, como reconheceu o mesmo Špidla.

Ora, para que esta oportunidade de erradicar a pobreza e a exclusão no espaço da União Europeia não seja perdida é preciso, como propõe a própria U.E., “encorajar a participação e o compromisso político de todos os segmentos da sociedade (…) na luta contra a pobreza e a exclusão social, desde o nível europeu ao nível local, no sector público e no privado”, motivando todos os cidadãos europeus para essa participação.

Como também, e sobretudo, é necessário “dar voz às preocupações e necessidades de todos quanto atravessam situações de pobreza e de exclusão social”; “ajudar a derrubar os estereótipos e a estigmatização da pobreza e da exclusão social”; “reforçar a solidariedade entre gerações e garantir o desenvolvimento sustentável”. Em suma, importa construir uma sociedade em novos moldes, capaz de garantir “a qualidade de vida, o bem-estar social e a igualdade de oportunidades para todos”.

Tudo isto constitui um trabalho à medida e ao alcance dos Media mas que não está a ser feito. O papel dos Órgãos de Informação não pode ser, como cada vez mais se afirma objectivamente, o de publicitar os eventos (mais ou menos encomendados pelas diferentes organizações e poderes) a essa publicitação juntando as notícias das tragédias do momento, e a elas somando futebol em excesso e um ou outro fait-divers.

Aos jornais (na Imprensa, na Rádio, na Televisão, na Internet) cabe um papel inultrapassável de verdadeiro serviço social, o de contribuir para a informação dos cidadãos sobre os reais problemas que afectam as nossas vidas, dando-lhes uma perspectiva crítica, motivadora da cidadania.

É tempo do jornalismo ser capaz de distinguir, na sua prática diária, entre propaganda e informação. E de deixar de fazer o jogo dos interesses instalados e dos seus próprios interesses de mercado. É tempo do jornalismo se empenhar neste combate à pobreza e à exclusão social que devia ser uma luta de todos nós. É, finalmente, tempo do jornalismo ser uma arma ao serviço do desenvolvimento humano, do empowerment da sociedade civil.

Sendo o “Setúbal na Rede” o jornal de uma região com graves problemas é o momento dos seus responsáveis, colaboradores e leitores se envolverem mais no grande objectivo deste ano europeu, desde logo fazendo um esforço ainda maior para dar voz às preocupações e necessidades de todos quantos, no distrito, atravessam situações de pobreza e de exclusão social. Se queremos, como diz o lema da U.E., acabar com a pobreza já, temos de dar o nosso contributo tornando visível o real escondido. É a hora!