9.5.10

Um ano de combate

Por Luís Villalobos, in Jornal Público

Este é o ano europeu de combate à pobreza e à exclusão social. É, mas não parece. Devia-se mudar o nome para ano de combate aos défices públicos, para ano de combate aos mercados e especuladores ou para ano de defesa do euro e do projecto europeu. Ou seja, para qualquer coisa mais realista, e certamente o combate à pobreza será muito mais necessário daqui a dois ou três anos.

Ontem, esta percepção foi confirmada pela reunião dos representantes da zona euro. Quando José Sócrates afirmou que o défice iria descer, este ano, para 7,3 por cento do PIB, comprometeu-se, não com os seus eleitores, mas com os seus parceiros europeus e com os mercados. Se falhar, as consequências poderão ser muito mais desastrosas do que uma derrota nas urnas. Por isso, torna-se inevitável um acordo com o PSD, numa lógica de alcançar os objectivos (e de partilha de responsabilidades), provavelmente oficializados num orçamento rectificativo. Para já, houve uma revisão de algumas das obras públicas. O pior é o que se segue. Novas medidas estão certamente em estudo para rápida implementação, e serão sempre penalizadoras. Se não para todos, pelo menos para alguns. É necessário mudar muitas coisas na economia, mas, recorrendo à sabedoria popular, "depressa e bem não há quem". O Governo parece navegar à vista no meio de uma tempestade, e isso provoca receios na execução das medidas. O caso do subsídio de desemprego já foi um mau sinal. Depois de ter prolongado as ajudas por causa da crise, vem agora dizer que é necessário pagar menos às pessoas, para as obrigar a procurar emprego. Desconhece-se, disse o Governo, os custos económicos, e também, diria eu, os sociais. Mudar as regras, sem mais enquadramento, como uma reflexão e alteração profunda das acções de formação, é empurrar os trabalhadores para empregos de baixas qualificações. Pessoalmente, não gostaria de ver este país ter como referência a excelência dos seus call centers.