Eduardo Pinto, in TSF
Famílias de Coimbra e do Porto cansaram-se do que faziam e foram viver e trabalhar no campo para duas localidades do concelho de Chaves.
A tendência habitual é a de quem nasce no interior do país ir à procura de melhor vida nas cidades do litoral. Mas também há, embora poucos, quem faça o percurso inverso. Anísio Saraiva e Agostinho Fontoura, e as respetivas famílias, são dois desses exemplos.
Anísio Saraiva, de 50 anos, começou a fartar-se da vida que levava em Coimbra, como investigador de História Medieval na universidade local, trabalho que estendia à Universidade Católica de Lisboa. Um dia conversou com a mulher, Ana, técnica de turismo também natural de Coimbra, se não seria melhor mudarem de vida e irem para Vidago, em Chaves, onde a mãe dele nasceu.
Se bem o pensaram, melhor o executaram. A decisão incluiu a filha, Vitória, que hoje tem 13 anos. Segundo diz, "resolveram ser felizes aos 45 anos e não aos 70", depois de se reformarem. E assim deram "um salto de fé", largando "literalmente tudo" e "iniciaram a vida do zero", junto do que consideram ser "o essencial para viver: Natureza, vida mais tranquila e estar próximo do que basta para o dia-a-dia".
"No litoral e na cidade acabamos por ser muito induzidos para só nos satisfazermos quando nos preenchemos com tudo e nunca estamos satisfeitos", explica Anísio, que compara esse tipo de vida a "viver como um hamster numa roda", sem ter a noção de que é à própria pessoa que cabe "parar essa roda" e mudar de vida.
gostinho Fontoura tem 41 anos, viveu 20 anos no Porto, para onde foi estudar aos 13 e onde conheceu a mulher Catarina, atualmente com 44. Trabalhavam num hipermercado, mas fartaram-se, porque "não estavam satisfeitos" e foram viver para São Vicente da Raia, em Chaves, onde criam leitões para vender a restaurantes e porcos para produção de fumeiro.
Atualmente têm a Cozinha Regional de Fumeiro Tradicional em São Vicente da Raia. Catarina também trabalha num lar de idosos. "Um rendimento extra que tem de ser, senão não chega", revela Agostinho. Admite que "às vezes" passa-lhe pela cabeça o arrependimento pela decisão tomada, explicando que na cidade "trabalhava oito horas e iam para casa", o que na aldeia e com a vida que escolheram "é impensável". Apesar de tudo, "a qualidade de vida compensa e os meus pais sempre têm a neta por perto".
Anísio Saraiva e Agostinho Fontoura são dois citadinos que se tornaram agricultores no interior e que têm presença assegurada na Feira dos Sabores de Chaves, que vai decorrer de 17 a 19 deste mês de fevereiro.
O certame organizado pela Câmara Municipal de Chaves, tem, este ano, um "Canto Bio" dedicado aos produtos biológicos, setor que está a ser impulsionado nos concelhos do Alto Tâmega e Barroso.