A última edição das PSuperior Talks, que aconteceu esta terça-feira, focou-se no desafio de trazer os mais jovens para o voluntariado.
Em Portugal, são os jovens que mais se dedicam ao voluntariado – só a faixa etária dos 15 aos 24 anos representa 11,3% dos voluntários portugueses – contudo, o grosso da população permanece distante das novas formas de envolvimento cívico. O que se pode fazer para mudar este paradigma? O tema esteve em debate esta terça-feira em Évora, fruto de uma parceria do PSuperior com a Fundação Eugénio de Almeida. As soluções podem passar pela criação de mais bancos de voluntariado que se traduzam em mais oportunidades e actividades temporárias que acompanhem os períodos lectivos.
Participaram neste debate Henrique Sim-Sim, coordenador da área social e de desenvolvimento da Fundação Eugénio de Almeida, Carla Ventura, vice-presidente da CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), Cátia Martins, professora da Universidade do Algarve e Carmen Garcia, enfermeira, autora de "A Mãe Imperfeita" e colunista do PÚBLICO. A moderação ficou a cargo de Mariana Adam, editora do PÚBLICO.
Eis os factos: em toda a Europa, 19,3% da população afirma dedicar-se ao voluntariado. Contudo, e segundo o Inquérito ao Trabalho Voluntário de 2018, em Portugal, esse valor é de apenas 7,8%. Ainda que uma grande parte sejam jovens, é importante olhar para estes dados e pensar como se pode atrair mais pessoas para as acções de voluntariado.
Cátia Martins, investigadora na área do voluntariado e professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, diz que, depois da primeira experiência positiva, a "sementinha" do voluntariado "fica lá", contudo salienta o papel importante da academia para “consciencializar e dar oportunidades” para o voluntariado.
Este tipo de actividades pode ser promovido enquanto uma forma de desenvolver competências necessárias para a entrada no mercado de trabalho e isso deve ser servir como meio de convencer os jovens a participar. Contudo, para isso, pode ser preciso abrir o leque a diferentes actividades e enquadrá-las de acordo com o perfil de interesses dos jovens, ajustando de acordo com o tempo livre que têm, defende a professora.
Cátia Martins sugere pensar num voluntariado em “períodos mais curtos”, como um semestre e salienta que as experiências pontuais devem ser “valorizadas”.
O tempo foi um dos factores também apontados por Carmen Garcia, enfermeira e autora do blog Mãe Imperfeita. Especialmente quando se “trabalha por turnos”, conciliar a vida profissional com uma actividade de voluntariado pode revelar-se uma tarefa espinhosa: “Há profissões que têm muito a dar ao voluntariado, mas a logística não ajuda”, sentencia.
E as oportunidades?
Também Henrique Sim-Sim, coordenador da Área Social e Desenvolvimento da fundação Eugénio de Almeida, sugere que se aumente o número de iniciativas de voluntariado pontual, que pode ser uma forma de aumentar a participação dos jovens. Além disso, e olhando para o outro lado, é preciso fortalecer a capacidade de acolhimento de voluntário por parte das instituições.
“As organizações dentro da economia social são muitas, dinâmicas e persistentes nos territórios de baixa densidade”, diagnostica, contudo os “técnicos [que trabalham nessas instituições] são pessoas e, por isso, limitados na sua acção”, precisando de ser “capacitados” para acolher voluntários.
Além disso, e conforme ditam as melhores práticas internacionais, as próprias organizações precisam de ser apoiadas financeiramente “para poderem continuar a desenvolver a sua prática de voluntariado”.
Para isso, é importante reforçar o “papel das estruturas”, defende Carla Ventura, vice-presidente da CASES. “Há muitas pessoas que querem fazer voluntariado, mas não sabem onde”, afirma. Por isso, apostar na criação e formação de bancos locais de voluntariado, assim como na aproximação entre organizações e comunidades é fundamental, e exige uma maior acção por parte de entidades enquadradoras como as autarquias.
Ainda olhando para o lado das instituições, Carmen Garcia salienta a importância de haver uma maior abertura e complementaridade das instituições em relação aos voluntários.
“Tenho tido muita dificuldade em fazer com que as nossas instituições percebam as vantagens do voluntariado”, avalia, com base no que vê nos lares onde trabalha. “Há um princípio básico no voluntariado que é o principio da complementaridade: não é suposto que os voluntários vão substituir ou fazer o trabalho que deveria ser feito pelos funcionários. O que acontece muitas vezes nos nossos lares é que estamos sempre no limite dos recursos humanos e se vai um voluntário precisamos antes que ele vá dar os jantares aos acamados”, afirma.
Apesar de tudo, não deixa de ter uma visão positiva: “Podemos ficar esperançosos porque há muitos miúdos que querem fazer voluntariado.” Basta criar oportunidades.
Texto editado por Inês Chaíça