Margarida Cardoso, in Expresso
“Concordamos com a necessidade de desincentivar o consumo do tabaco, mas não podemos deixar de dizer que as novas regras são discriminatórias e exageradas e vão representar prejuízos significativos para o sector”. É assim que Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes Pro.Var - Promover e Inovar a Restauração Nacional comenta o novo pacote de medidas que deverá ser aprovado quinta-feira, em Conselho de Ministros, com mais restrições ao consumo do tabaco.
Não fumar à porta de restaurantes, cafés e similares? “Num momento em que um em cada cinco portugueses ainda fuma e quando está no restaurante enfrenta o seu vício com uma saída ao exterior para fumar um cigarro, a medida parece-nos claramente exagerada, radical e sem efeito prático concreto ou imediato”, afirma o dirigente associativo, convicto de que impor esta regra de forma eficaz “exigiria fiscalização” e de que o cliente se habituará a dar mais uns passos até à porta ao lado. “Faz mais sentido pensar numa fase transitória e numa simples recomendação”, sustenta.
No que respeita à proibição de máquinas de venda automática de tabaco no interior de restaurantes, bares e estabelecimentos afins, Daniel Serra usa a palavra “discriminatória”. E explica: “As pessoas que querem comprar tabaco continuam a poder comprar, mas passam a ir a outros estabelecimentos. A medida prejudica pequenas empresas do nosso sector e beneficia certamente a grande distribuição, que pode facilmente criar tabacarias dentro dos seus espaços comerciais”.
E, neste caso, o presidente da Pro.Var não tem dúvidas do impacto financeiro, “não tanto pela margem do negócio do tabaco, que é reduzida, mas pelas compras associadas”, afirma. “É que quem entra para o tabaco, habitualmente compra mais alguma coisa, pelo menos um café”, diz.
SECTOR PEDE INDEMNIZAÇÃO
Já a proibição de fumar nas esplanadas merece a aprovação do sector. “Esse é um ponto em que estamos em sintonia com as novas normas”, nota Daniel Serra.
No entanto, pensar que está previsto o fim das zonas delimitadas criadas especificamente para fumar nos restaurantes merece críticas e até “um pedido especial de apoio aos empresários que investiram nesses espaços, em muitos casos somas avultadas, depois das regras que entraram em vigor a 1 de janeiro último para salas de fumo em espaços fechados, e agora vêem esse dinheiro perdido sem terem tempo para obter o devido retorno”, comenta.
Ao contrário da Pro.Var, a AHRESP - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, não quis ainda comentar as novas regras ao Expresso. A associação alega não ter sido ouvida sobre o tema, conhecer apenas o que está previsto de forma indireta e, por isso, “preferir aguardar a aprovação do diploma para falar depois da leitura atenta do mesmo”.