Fátima Ferrão, in Expresso
Até 2030, um número de pessoas equivalente à população dos Estados Unidos não terá trabalho se não apostar na requalificação da sua formação. Digitalização e inteligência artificial estão a criar novas profissões.
Entre 3 e 14% da força de trabalho mundial será obsoleta dentro sete anos devido à automação, à inteligência artificial e também à digitalização. Os números são do McKinsey Global Institute, que aponta para que entre 75 e 375 milhões de pessoas sejam obrigadas a requalificar-se e a adquirir novas competências, caso queiram manter-se profissionalmente ativas. Do lado das empresas, e para garantir que dispõem dos talentos de que necessitam, terá igualmente de existir uma preocupação de optar por estratégias de upskilling e reskilling.
Mas, o que podem parecer notícias menos positivas são afinal, na perspetiva de André Ribeiro Pires, boas novas. Para o Chief Operating Officer (COO) da Multipessoal, "neste momento verificamos que as pessoas também sentem a necessidade de fazer essa reconversão ou evolução das suas competências para se preparar para o futuro, e isso é bom". O responsável da empresa de recrutamento participará na próxima conversa com a diretora do Diário de Notícias, Rosália Amorim, a quarta de seis, integrada na iniciativa que visa debater os desafios que se impõem ao mundo do trabalho e do emprego no contexto pós-pandemia. O tema será, desta vez, Os desafios do upskilling e do reskilling e poderá assistir no próximo dia 15 de maio no site do DN.
Transformação é constante
Ao longo do último século, as mudanças no mundo do trabalho têm sido constantes. Desde então, muitas profissões desapareceram, assim como foram criadas outras, em nome da adequação às necessidades do mercado e da sociedade. Contudo, nunca como até agora, as mudanças foram tão evidentes, com uma perceção generalizada das razões que levam ao desaparecimento de muitas funções. "Hoje conseguimos perceber de onde é que vem a grande mudança, conseguimos perceber que a digitalização nos trouxe uma grande aceleração, mas há um conjunto de ferramentas e de processos que nos obrigam a ser ainda mais rápidos ou, pelo menos, a percecionar melhor que impacto é que vão ter no nosso dia-a-dia", revela André Ribeiro Pires ao DN. Esta velocidade na mudança torna as estratégias de reskilling e de upskilling "obrigatórias e inevitáveis, tanto para o desenvolvimento das carreiras das pessoas, como para as empresas", defende o responsável da Multipessoal. Aliás, acrescenta que o ritmo de aceleração é tal que algumas competências recentes como, por exemplo, ligadas ao marketing digital, já estão a ser descontinuadas ou a exigir novas qualificações, mesmo que dentro da mesma área.
Para acompanhar esta transformação, o sistema educativo necessita igualmente de alterar, em alguns casos, substancialmente a sua oferta formativa para que esta vá ao encontro das necessidades reais do mundo empresarial. Mas, como refere André Ribeiro Pires, esta mudança demora tempo e, por isso, são necessárias outras formas de qualificar, sempre acompanhadas "com aquilo que é a evolução da profissão dentro de cada uma destas áreas".
No caso das universidades e dos politécnicos, a aproximação às empresas tem sido gradual e já acontece há algum tempo. "Principalmente as universidades mais reconhecidas têm vindo a criar novos negócios e a estar ligadas às empresas e à inovação, desenvolvendo cursos e conteúdos muito mais adequados à realidade do emprego", salienta o COO da Multipessoal.
Formação à medida
Se o ritmo acelerado da digitalização altera rapidamente o paradigma do trabalho, permite igualmente dar resposta mais célere às novas necessidades formativas. A distância deixou de ser um problema na aprendizagem e a personalização e adaptabilidade dos conteúdos formativos são vantagens inquestionáveis. A inteligência artificial é, a este nível, um aliado de peso, como destaca André Ribeiro Pires.
Já no que se refere às competências mais valorizadas, as soft skills têm ganho importância face às capacidades mais técnicas, com a resiliência no topo. "São precisas pessoas que façam a diferença e que não desistam rápido", reforça o COO. Por outro lado, as empresas têm que estar atentas às necessidades e exigências das diferentes gerações que se cruzam atualmente no mundo do trabalho. "As pessoas que entram no mercado de emprego são muito exigentes sobre os próprios empregos, e os millennials têm exigências novas que não tínhamos provavelmente na nossa geração", conclui.