Célia Marques Azevedo, in Jornal de Notícias
Presidente da Comissão Europeia quer mais "ambição"dos líderes, na cimeira que arranca amanhã em Bruxelas
A dois dias da realização da Cimeira Europeia de Bruxelas, Durão Barroso pediu mais "ambição" aos chefes de Estado e de Governo para fazer avançar o pacote de recuperação da economia, que propôs já há duas semanas.
O plano de relançamento económico para o crescimento e emprego, um bloco de 200 mil milhões de euros, ou 1,5% do PIB, que a Comissão Europeia (CE) apresentou há duas semanas, foi severamente criticado pelos ministros das Finanças da União Europeia (UE) a semana passada.
"Sei que por definição os ministros das Finanças são prudentes", no entanto, "também espero que o Conselho Europeu seja mais ambicioso que os ministros das Finanças" garantindo que não desistirá do objectivo do 1,5% do PIB, até porque "é o único plano europeu, ninguém apresentou alternativas", afirmou.
Parte dos países, entre eles a Holanda, a Alemanha e a Suécia, não concordam sobretudo com a parcela de cinco mil milhões de euros que derivam do dinheiro não usado da Política Agrícola Comum (PAC) e que Bruxelas quer reencaminhar para projectos que potencialmente criem emprego e infra-estruturas de banda larga.
Uma fonte diplomática disse ao JN que o que está a "irritar" alguns países é o facto de a CE estar a ser muito vaga no que respeita ao destino a dar ao dinheiro. Na sua opinião, se a Comissão avançar com propostas "mais concretas" nas quais pretende investir o dinheiro, terá mais hipóteses de conseguir um acordo no Conselho Europeu de 11 e 12 de Dezembro.
A Alemanha mantém-se irredutível quanto a alargar os cordões à bolsa para além do valor de 32 mil milhões de euros que avançou, recentemente, para incutir movimento na sua economia.
Por causa dos temas em agenda e do facto de chegarem em aberto à Cimeira de Bruxelas, Durão Barroso dizia ontem, que este é o "mais importante" Conselho Europeu em que participa, "enquanto presidente da Comissão Europeia". Este "será um teste para a Europa, para ver se estamos preparados para responder à crise".
O ex-primeiro ministro português pediu, ontem, também, uma cooperação transatlântica de combate à crise. Por um lado, porque, lembrou, foi nos Estados Unidos que a crise começou, por outro, pela coincidência de agendas e de "linhas" de interesse. "Se concordarmos a nível europeu, esta semana, porque não termos um programa conjunto com os americanos?", sugeriu Durão Barroso. "Por que não articular uma resposta comum transatlântica para a crise económica" a discutir "em Londres a 2 de Abril" na cimeira do G20, que dá sequência à de Novembro em Washington.
A grande bandeira de Barroso, o pacote de combate às alterações climáticas, está em vias de chegar à cimeira em aberto, e incendiar o debate que pode entrar pela madrugada de sexta-feira. A Alemanha, a Itália e a Polónia dizem que não vão aprovar qualquer plano que ponha em risco os empregos e a actividade dos seus países nomeadamente no ramo automóvel.
Apesar disso, o presidente da CE disse ontem rejeitar a "falácia que a crise económica quer dizer que não podemos suportar os custos das alterações climáticas", acrescentando que estas fazem, aliás, parte da solução para a crise e dá como exemplo o "investimento inteligente" em energia limpa.
Durão diz que seria um "erro" a Europa recuar agora, quando os EUA finalmente se aproximam dos mesmos objectivos de reduzir em 20%, até 2020, as emissões de CO2 face aos níveis de 1990.