4.12.08

Crise: Menos emigrantes vêm à "terra"

in Jornal de Notícias

A crise económica está a levar muitos emigrantes a desistir da tradição de se deslocarem a Portugal para passar o Natal com a família alargada. A decisão afecta quem se fixou na Europa e em destinos mais longínquos.

A compra de bilhetes para viagens de França até Portugal decresceu entre 40 e 50%, face a período idêntico do ano passado, queixa-se Rui Lafayette, da agências Lusitânia. O decréscimo mais acentuado verifica-se no transporte rodoviário. O operador não responsabiliza a aviação de baixo custo nem a venda de passagens na Internet e garante que as pessoas não se deslocam a Portugal para passar o período das festas porque "não têm dinheiro ou estão com medo do futuro".

A mesma tendência é observada entre os emigrantes no Canadá, onde duas das maiores agências que servem os portugueses em Montreal se queixam de quebras entre os dez e os 25% na compra e reserva de bilhetes e pacotes turísticos. Já nos Estados Unidos, diversos operadores contactados pela agência Lusa consideram haver quebra na compra de viagens desde há mais épocas. João Marques, da agência Martins, em Long Island, afirma ter sentido quebra de vendas de, "no mínimo, 20%". Mas o fenómeno tem sido consistente desde os dois últimos verões "por causa do elevado preço das viagens e da diferença cambial entre o dólar e o euro", acrescentou.

Em Waterbury, no Connecticut, Manuel Batáguas, da agência One Stop, tem outra explicação para a baixa procura. Segundo ele, "as viagens são muito caras e os tempos são de crise, mas há outros factores que explicam a redução de viagens para Portugal, como o fim da emigração portuguesa para os EUA". Acrescenta Manuel Batáguas que "com as primeiras gerações a envelhecerem, tendo sido elas as que alimentavam este mercado, é natural que se note diminuição".

O proprietário da agência Arcos, de Newark, Nova Jérsia, confirma haver menos reservas. António Reis atribui o fenómeno ao "clima de incerteza que se vive no mundo do trabalho, pois as pessoas têm medo de perder os empregos".

Em Rhode Island, Estado com maior percentagem de portugueses, João Sousa, da Cardoso Travel, nota "uma baixa considerável" nas reservas para o fim de ano na Madeira, um dos pacotes turísticos mais populares. "As viagens para a passagem de ano na Madeira estão praticamente mortas, disse João Sousa, acrescentando que, além da crise, "os altos preços em Portugal fazem com que as comunidades optem por destinos mais baratos na América".

A contrariar esta tendência, a crise parece estar a passar ao largo dos emigrantes na Venezuela, onde conseguir um lugar para viajar pode até ser difícil. Vários agentes consideram que as pessoas estão convencidas de que os efeitos da crise só vão sentir-se em meados de 2009 e que serão menos intensos na Venezuela do que noutros países.