Susana Otão, in Jornal de Notícias
Mulheres provenientes do Leste da Europa dedicam-se à prostituição em Lisboa
Elena, 21 anos, tem uma filha de cinco por quem chora de saudade. Maria, 20 anos, é casada e queria ser professora. Corina, 19 anos, quer comprar uma casa no seu país. São todas romenas e dedicam-se à prostituição.
Três rostos, três mulheres, três casos e o mesmo destino: chegaram a Portugal com o sonho de abraçar uma vida melhor e acabaram a abraçar estranhos em quartos baratos de pensões alfacinhas, por poucos euros que juntam e enviam para as famílias na Roménia.
É cada vez mais frequente, nas ruas das grandes cidades, a presença de cidadãs romenas que se dedicam à prostituição. Segundo o SEF, "os registos estão longe de ser exactos", mas são mesmo estas cidadãs que estão em maior quantidade nas ruas. "As mulheres brasileiras, por exemplo, são as que mais se destacam neste tipo de actividade em Portugal, mas a maioria não está nas ruas, mas sim em clubes ou em apartamentos. As romenas fequentam mais as ruas", sustentou fonte do SEF. Depois das brasileiras, surgem as mulheres provenientes de Leste e depois, apesar de em menor número, africanas e asiáticas.
Elena, Maria e Corina têm três histórias distintas, pautadas, no entanto, pela mesma bitola: a miséria. Todas dizem que chegaram a Portugal sozinhas, que foram as "circunstâncias da vida" que as trouxeram e que a "necessidade" as fez optar por uma vida de risco e a "pisar o risco". "Na Roménia, cheguei a passar fome. Somos cinco irmãos, um deles com deficiência, tenho de enviar dinheiro", explica Corina, avançando que chegou a Portugal por intermédio de uma prima e que sabia bem o que vinha fazer. "Não gosto desta vida, mas tem de ser. Faço-o para dar uma vida melhor à minha filha", diz, num encolher de ombros, quem cobra 25 euros por cada 20 minutos de práticas sexuais.
Maria explica num Português correcto a sua história. Casou aos 14 anos e desde então tem vindo a protagonizar uma vida de saltimbanco, sempre com a prostituição como pano de fundo. "Primeiro, estive num clube em Espanha e quando vim para cá trouxe o meu marido". À pergunta se o companheiro não se importa, atira: "Chateamo-nos muitas vezes. Acho que nunca se vai habituar".
Elena é a mais tímida das três. Os seus olhos claros têm uma tonalidade triste, mas quando fala do filho de três anos a expressão muda: "É de quem sinto mais saudades. Estou a ganhar dinheiro para comprar uma casa", confessa. Quando chegou a Portugal, pensava que vinha trabalhar para um café. A vida trocou-lhe as voltas e deixou-a literalmente na rua. "Quando cheguei, a minha amiga que me tinha arranjado trabalho teve de regressar à Roménia", lembra. E de olhos no chão, confessa: "Passei no Martim Moniz e pensei que nunca iria entrar nesta vida". Mas entrou e custou-lhe. "Quando tive o meu primeiro cliente, chorei muito. Foi horrível, só queria fugir", diz, de expressão fechada. E depois? "Depois, uma pessoa habitua--se".
Ao perguntarmos a cada uma delas se se imaginavam nesta vida, entreolham-se. "Não tenho vergonha. Faço por necessidade, mas claro que gostaria de fazer outra coisa", sintetiza Corina. E por que o fazem? "Porque se ganha mais e em qualquer trabalho é necessário um visto de residência ou uma carta de recomendação. E quem é que me vai recomendar?". A questão ficou no ar.