Samuel Silva, in Jornal Público
Aumento de 50 por cento face a 2007. Associação Industrial do Minho reclama apoios do Estado para evitar sangria regional
Até ao final do mês de Setembro, faliram 440 empresas do distrito de Braga - 1,5 por cento do universo total. Face ao mesmo período de 2007, o aumento é de cerca de 50 por cento e o sector têxtil é aquele em que se tem observado um maior número de insolvências.
Estes números estiveram na base de um diagnóstico negro da situação económica das regiões dos vales do Ave e Cávado traçado ontem pela Associação Industrial do Minho (AIMinho). António Marques, que lidera a instituição, fala num cenário de "pré-colapso" que está a atingir o Norte, e exige medidas urgentes. E pede que o Governo actue "até ao final do ano, sob pena de já ser tarde."
O dirigente da associação empresarial alerta que, se nada for feito, "não vai haver país dentro de seis meses a um ano". "As falências vão aumentar muito nos próximos dois a três meses e podemos estar perante um cenário de ruptura social", afirma António Marques.
O distrito de Braga é o terceiro do país onde faliram mais empresas em 2008, de acordo com os dados divulgados ontem pela AIMinho. Apenas Lisboa e, sobretudo, o Porto - onde fecharam mais de 800 empresas este ano - ultrapassam a região minhota. Nos primeiros nove meses do ano, 15 por cento das empresas que abriram falência no país situavam-se no distrito de Braga.
Mas a AIMinho alerta que esta acaba por ser a região onde este cenário de crise tem mais impactos, uma vez que é o distrito onde o número de empresas falidas tem mais peso face ao total de empresas existentes. Ao todo, 440 firmas faliram este ano em Braga, o que representa 1,5 por cento do total da região. Neste quadro assume especial relevo o sector têxtil, principal sector da actividade e empregador da região, especialmente no vale do Ave.
A associação defende, perante este quadro, a criação de um fundo de reestruturação de empresas para apoiar as unidades com viabilidade económica e o desenvolvimento de um plano de apoio específico para o Norte. "Faz sentido actuar-se numa lógica regional", defendeu António Marques.
O líder da AIMinho entende que o Governo deve, por exemplo, estender algumas das medidas anunciadas para auxiliar o sector automóvel a outras áreas industriais. "A têxtil representa 12 por cento das exportações nacionais e emprega 180 mil pessoas. Também devia poder recorrer aos incentivos à formação para que não haja despedimentos", sublinha.
Bancos criticados
No final de uma reunião extraordinária do conselho estratégico da AIMinho, que durou cerca de três horas, os empresários lançaram ainda fortes críticas ao sistema bancário. "Temos de dar um puxão de orelhas aos bancos", ilustrou António Marques.
O dirigente diz que a associação empresarial está em total sintonia com a solução encontrada pelo Governo para garantir o financiamento do sistema financeiro, mas queixa-se que esse dinheiro não está a chegar às empresas. "Não compreendemos como é que os bancos, apesar do apoio do Estado, continuam a levantar obstáculos ao crédito das empresas." O dirigente apela ao executivo para que se reúna com os presidentes dos bancos, de modo a garantir que os empréstimos vão chegar à economia real.
A associação industrial do Minho divulgou também outras medidas que quer ver aplicadas no combate ao actual cenário económico do país, onde incluiu um ajuste dos prazos do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), para que os financiamentos comunitários comecem a chegar rapidamente às empresas, bem como uma diminuição temporária da carga fiscal e a alteração das regras do pagamento do IVA.
49%
O volume de insolvências no distrito de Braga é 49 por cento superior ao que fora registado no ano passado, segundo a AIM
Falências colocam desemprego nos 11 por cento
O aumento do número de falências no distrito de Braga tem tido também reflexos num crescimento do desemprego. Os dados da AIMinho apontam para a existência de uma taxa de desemprego real na região que ultrapassa os 11 por cento.
Os últimos dados oficiais, que datam de Setembro, indicam que o número de trabalhadores inscritos nos centros de emprego ascendia a 41 mil, mais 700 pessoas do que no mês anterior. Desde o início do ano, há mais 2500 desempregados no distrito de Braga, fruto do encerramento de mais de 400 empresas e da reestruturação de outras firmas.
O sector do têxtil e do vestuário, que compõe grande parte do tecido produtivo das regiões dos vales do Ave e Cávado, é o grande responsável por este crescimento no número de empresas que declararam insolvência.
No final de Novembro, o tribunal de Vila Verde decretou a insolvência da empresa têxtil Meneses & Pacheco, que empregava 104 trabalhadores. A empresa, que estava parada desde Julho, tinha dívidas acumuladas de mais de 1,3 milhões de euros. Em Junho também tinha sido interrompida a laboração da Josim, uma empresa de Guimarães, que produzia cobertores e dava emprego a 100 trabalhadores.
Outras empresas da região têm pedido a declaração de insolvência nos últimos meses. Em Setembro, parte dos 250 funcionários da têxtil Tor, de Barcelos, deram seguimento a esse pedido, depois de terem estado três meses sem receber salário. Também a fiação de Guimarães Fidar, uma fiação de Guimarães, que empregava 150 pessoas, encerrou recentemente. A empresa interrompeu a laboração no Verão e viu o tribunal declarar a sua falência em Outubro.
No entanto, no mês passado, os credores da empresa aprovaram por unanimidade a reabertura da empresa, o que deverá acontecer no primeiro trimestre do próximo ano.
Mas não só a têxtil tem sido afectada pela crise. No mês passado, 70 trabalhadores da empresa de Braga Agrovil, que produzia máquinas agrícolas, receberam a carta de despedimento, depois do encerramento da empresa.