in Jornal Público
Três anos no centro das soluções arrisca tornar-se parte dos problemas
Se a cimeira de hoje e amanhã será a mais importante para Durão Barroso, para Angela Merkel, chanceler alemã, tem boas possibilidades de ser a mais difícil.
Merkel já teve quebra-cabeças mais complexos para resolver, como aconteceu em 2005 com a definição do quadro orçamental da União Europeia (UE) até 2013, ou a concepção do Tratado de Lisboa que permitiu, em 2007, desbloquear o imbróglio constitucional da UE.
Mas, depois de ter estado três anos no centro das soluções para os desafios que se colocaram à UE, a chanceler corre agora o risco de se tornar parte dos problemas.
Nas discussões sobre a protecção do clima, a "chanceler verde" que há quase dois anos levou os seus pares a assumir o compromisso dos "três vintes" (ver texto nestas páginas) é agora vista como o principal obstáculo a um acordo dos Vinte e Sete. A sua insistência em dispensar quase todos os sectores industriais da obrigação de pagar para poluir poderá destruir o equilíbrio previsto nas propostas da Comissão Europeia no esforço que é pedido a cada país.
Na definição da resposta europeia à recessão, Merkel será o alvo de todas as pressões para ir mais longe do que o programa de 31 mil milhões de euros em dois anos que já anunciou para estimular a actividade da economia motora da UE. Mas, partidária da prudência, a chanceler recusa entrar numa "corrida aos milhões" e de se endividar para ajudar os outros países, para grande irritação da França e Reino Unido, defensores de um plano mais ambicioso.
A Alemanha é, de novo, um dos países com maiores dificuldades em aceitar a reafectação de "sobras" do orçamento agrícola da UE para áreas ligadas ao esforço de relançamento da economia. E por uma velha postura filosófica, segundo a qual o dinheiro não gasto nas áreas para que foi previsto deve ser devolvido aos orçamentos nacionais, em vez de alimentar novas políticas criadas pela "porta das traseiras".
Como se já não bastasse, Merkel terá de enfrentar na cimeira um novo braço-de-ferro resultante da insistência de Sarkozy em obter a luz verde - obrigatoriamente unânime - da UE para aplicar uma taxa reduzida do IVA para alguns serviços de mão-de-obra intensiva, sobretudo a restauração. Esta é uma velha batalha franco-alemã que se arrasta há anos sem solução, mas o facto de Durão Barroso ter decidido incluí-la no seu plano económico só vai agravar as dificuldades da chanceler. E contribuir para empalidecer ainda mais a sua estrela europeia. I.A.C.