in Jornal Público
A co-laureada com o Nobel da Medicina de 2008, Françoise Barré-Sinoussi, manifestou ontem na conferência internacional sobre a sida em Dacar, no Senegal, o receio de que a crise económica mundial venha a reflectir-se nos financiamentos para o combate à doença.
"Como a maioria dos investigadores, clínicos e associações, temo as consequências da crise económica, em particular no que se refere ao empenho dos países no fundo mundial" contra a sida, a tuberculose e o paludismo, disse à agência AFP a investigadora francesa, que é directora de laboratório no Instituto Pasteur.
Barré-Sinoussi adiantou ainda que foi graças à ajuda internacional que, nos últimos cinco anos, se verificaram "acentuados progressos" relacionados com o acesso aos cuidados médicos e aos tratamentos "nos países com recursos limitados, nomeadamente em África".
"Há cinco anos, 200 mil pessoas com necessidade de tratamento estavam a ser tratadas. Hoje há três milhões de pessoas a serem tratadas e isso não é suficiente, porque apenas 30 por cento das pessoas que precisam estão a receber tratamento", adiantou Barré-Sinoussi. "O objectivo de ter em 2010 um acesso universal ao tratamento é muito difícil de atingir. Já era um objectivo difícil, mas se lhe juntarmos os problemas económicos e financeiros..."
A investigadora francesa disse ainda que, no que se refere à França, "os compromissos para os próximos três anos estão feitos e vão ser assumidos". Mas, adiantou, "no que diz repeito aos outros países ainda não sabemos".
Em Dacar está a fazer-se o balanço de mais de 20 anos de luta contra a sida. É na África subsariana que vivem 67 por cento dos 33 milhões de pessoas portadoras do vírus da sida.
A responsável do programa HIV/sida em África do Banco Mundial, Elizabeth Lule, deu razão aos receios dos investigadores e sublinhou que vem aí "um período muito difícil". Sublinhou ainda que existem várias crises que exigem financiamento - no Darfur, na República Democrática do Congo ou no Zimbabwe.
René Bonnel, economista do Banco Mundial, disse que poderão ser solicitados novos financiadores, como a China, a Coreia do Sul ou o Japão.