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O presidente da União das Misericórdias (UdM), Manuel Lemos, revelou hoje, na Figueira da Foz, que o número de pessoas que, sob garantia de anonimato, procuram as instituições a pedir comida tem vindo a aumentar.
"As pessoas sabem que eu não vou dizer que é o senhor A ou o senhor B. Estamos perante a pobreza envergonhada", afirmou Manuel Lemos durante a tertúlia Reacontece, subordinada ao tema "SOS Crise", que decorreu na noite de quinta para sexta-feira no Casino da Figueira da Foz.
Manuel Lemos frisou que "todos os dias" recebe pedidos por e-mail de pessoas que perguntam "como é que podem ter comida, como é que podem arranjar emprego", considerando a situação um reflexo da crise actual.
Questionado pelo jornalista Carlos Pinto Coelho, moderador da tertúlia, indicou ainda a procura de alojamento como outra das preocupações de quem procura ajuda.
Exemplificou com o caso da Misericórdia do Barreiro, onde, revelou, citando o provedor da instituição, "o aumento exponencial das pessoas que vão lá comer é brutal".
Manuel Lemos disse não possuir "números exactos" sobre a dimensão do aumento de pedidos de comida.
"Mas quando as Misericórdias nos falam nisso, quando cada uma se dirige à União para colocar o problema, é porque isso atingiu números muito significativos", garantiu.
O responsável da UdM, assinalou, por outro lado, a mudança no perfil das pessoas que recorrem às Misericórdias em busca de alimentos, frisando que "dantes era o idoso" que para além da refeição convive no local e agora "chegam outro tipo de pessoas, mais novos, que comem rapidamente".
Presente na sala, o provedor da Misericórdia-Obra da Figueira assumiu que a situação na Figueira da Foz é idêntica a outras zonas do país.
"Na realidade há um aumento muito grande nos apoios em alimentação e não só", disse Joaquim de Sousa, quantificando esse crescimento, no início de Dezembro, em 50 por cento face ao início de 2008.
O provedor aludiu, a exemplo de Manuel Lemos, à alteração de perfil das pessoas que recorrem à instituição, sublinhando o número crescente de pedidos oriundos da classe média e faixas etárias "cada vez mais baixas", disse.
Joaquim de Sousa explicou ainda o modo como a distribuição de alimentos é feita a partir da Misericórdia da Figueira da Foz, com garantia de anonimato dos destinatários, que classificou como "procedimento de bom senso".
"Há uma lista de 100 pessoas que eu não conheço, nem ninguém naquela casa conhece. Essa lista só conhece a encarregada dos serviços de aprovisionamento que todas as semanas distribui com a maior descrição possível, às vezes procuramos até que essa distribuição seja feita através de terceiros", declarou.
JLS.
Lusa/fim