10.5.16

Governo "sensível" a criação de estratégia nacional de combate à pobreza

in RR

Rede Europeia Anti-Pobreza diz ter encontrado abertura por parte do governo e do presidente da Assembleia da República para que a pobreza e a exclusão social sejam colocadas no centro do debate político.
Vários estudos dão conta do aumento da pobreza em Portugal e na Europa nos últimos anos. Foto: EPA

A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) em Portugal tem esperança que o Governo comece a trabalhar com vista a diminuir a pobreza e a exclusão social.

Em entrevista à Renascença, no final do encontro de associados que se realizou em Santarém, a directora executiva daquele organismo, Sandra Araújo, revelou que as diligências feitas junto do Governo têm sido bem-sucedidas.

Depois de uma audiência com o ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, em Fevereiro, Sandra Araújo encontrou “abertura a um trabalho de parceria efectivo”, além de “muita sensibilidade para a necessidade de uma estratégia nacional” de combate à pobreza.

Na semana passada, a EAPN Portugal foi recebida em audiência pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. “Interpelámos a Assembleia da República a assumir o combate à pobreza como prioridade”, diz a directora-executiva daquele organismo.

“Pedimos também que todos os anos fosse realizado um debate na Assembleia da República, onde fosse feita uma avaliação das políticas públicas com impacto na pobreza e na exclusão social”, explicou Sandra Araújo, que diz ter ficado muito contente com a receptividade de Ferro Rodrigues em relação às propostas da Rede Anti-Pobreza.

Com o apoio do Governo e do presidente da Assembleia da República, Sandra Araújo espera encontrar a mesma abertura por parte dos outros partidos. “Temos agora que nos sentar à mesa com os outros partidos políticos e tentar perceber se existe, de facto, interesse e um compromisso para transformar a luta contra a pobreza num desígnio nacional”, afirmou.

A EAPN Portugal está a preparar uma petição pública em torno da necessidade de uma estratégia nacional de combate à pobreza. “O objectivo é mobilizar toda a sociedade, todos os cidadãos e instituições, para os sensibilizar para a importância de Portugal construir uma estratégia integrada de combate à pobreza e o que isso implica na mudança das políticas e na nossa forma de estar enquanto cidadãos”, explica Sandra Araújo.

Neste encontro em Santarém foram apresentados vários estudos que deram conta do aumento da pobreza em Portugal e na Europa, nos últimos anos, e da importância das instituições sociais na resposta aos casos emergentes. Urge agora, diz a Rede Europeia Anti-Pobreza, definir uma estratégia nacional para combater o problema.

Recados à União Europeia

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza é categórico quando fala da União Europeia. Sérgio Aires considera que a UE precisa de uma “mudança total de paradigma”, tendo de “voltar às raízes da sua fundação e alterar o seu modelo económico”, procurando uma maior distribuição da riqueza.

Se na Europa mais de um quarto da população está em risco de pobreza, em Portugal foram os mais pobres que pior ficaram com a crise. Por isso, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Carlos Farinha Rodrigues, defende uma estratégia de combate à pobreza que incida, sobretudo, nas crianças e nos jovens e que “tenha ao mesmo tempo uma dimensão na área dos recursos financeiros para essas famílias”.

Por outro lado, “tem de ter medidas concretas de articulação com o sistema educativo”.

De acordo com o docente, que coordenou o estudo sobre o impacto da intervenção da troika em Portugal, vai levar tempo a recuperar do retrocesso dos últimos anos mas o Governo parece ir no bom caminho.