8.6.16

Cuidados de saúde física e psicológica chegam a populações excluídas

In "Diário de Viseu"

Sem-abrigo, reclusos e prostitutas de Viseu vão ser os alvos dos projectos da organização não-governamental 'Saúde em Português'

Saúde em Português 66 iminuir o fosso que existe entre a sociedade em geral e populações, muitas vezes, completamente marginalizadas e em risco" é o objectivo da organização não-governamental 'Saúde em Português', com sede internacional em Coimbra, que irá começar em Viseu três projectos de apoio na área da saúde, direccionados a sem-abrigo, prostitutas e reclusos.
Um deles intitula-se 'Saúde na Esquina' e já tem financiamento garantido. O arranque está marcado para Agosto e destina-se à população que se prostitui em Viseu. Inês Figueiredo, responsável pela Delegação Regional do Centro da Saúde em Português, a segunda delegação existente no país e que tem sede em Viseu, explicou que este projecto é inovador na cidade e conta com o apoio pontual do Centro de Acompanhamento e Diagnóstico (CAD) na divulgação do projecto junto das Inês Figueiredo e a delegada regional do Centro da Saúde em Português prostitutas mas também na sinalização das beneficiárias.
No CAD, situado no edifício da Segurança Social, e integrado no Sistema Nacional de Saúde, a população que se prostitui tem acesso a testes de diagnóstico rápido do HIV e a preservativos.
O projecto Saúde na Esquina é inovador porque em vez de serem as mulheres a deslocaremse a um local específico, são os voluntários que vão ao encontro delas, em sítios ainda a definir.
Neste caso, a Câmara de Viseu assume um papel fundamental ao disponibilizar a Unidade Móvel de Saúde para a realização das acções, visto que a carrinha já está preparada com ambiente de consultório médico.
"Estamos expectantes, a desejar que toda a gente se envolva, tanto a população-alvo como a comunidade que se queira juntar a nós através do voluntariado", apelou Inês Figueiredo, sublinhando que todo o projecto vai funcionar na base do voluntanado.
"Todos são poucos", pois para "colmatar todos os turnos que vão surgir, vão ser precisos muitos voluntários", disse a responsável pela Delegação Regional do Centro. As equipas que vão para o terreno vão ser multidisciplinares - com cinco elementos, no mínimo - de modo a que os cuidados não incidam apenas na saúde física mas tenham também uma componente de apoio psicológico. "Vamos para o terreno dar consultas de saúde, de planeamento familiar, dar apoio psicológico, na medida do possível e das necessidades, e tentar diminuir este fosso que existe entre a comunidade do dia-adia e esta população, utilizando a saúde como forma de aproximação destes dois mundos e diminuição desta exclusão social que ainda existe", explicou Inês Figueiredo.
Sem apoios financeiros é mais difícil O projecto tem um custo de ii mil euros e foi inteiramente financiado pelo Movimento Mais para Todos, da SIC Esperança e LIDL. Agora que a organização tem os recursos financeiros e materiais, o próximo passo é recrutar voluntários. Inês Figueiredo afirmou que qualquer pessoa pode ser voluntária, basta que esteja "sensibilizada para esta problemática". "Muitas vezes, dois dedos de conversa e um cházinho fazem toda a diferença, e é esse tratamento que é preciso", defendeu.
Por isso, vão ser precisos "voluntários para estar a fazer conversa, companhia e para receber as pessoas que vão para a consulta de saúde física". "Esses voluntários vão ter também um papel muito importante. Nós valorizamos muito a componente psicológica da saúde", frisou, reafirmando que fazer equipas só de médicos e enfermeiros é "muito redutor" e não atinge os objectivos.
Depois da abertura de vagas e selecção dos voluntários, estes terão um período de formação específica de acordo com os projectos em que vão participar (projecto com as prostitutas, com os sem-abrigo ou com os reclusos). A formação tem a duração de um mês ou um mês e meio, distribuída em várias sessões.
"Estas coisas são muito difíceis de levar para o terreno sem apoios, apesar de a mão-deobra assentar no voluntariado responsável e no empenho das pessoas, há sempre muitos custos associados, [nomeadamente com os] materiais que são necessários para as actividades decorrerem", admitiu Inês Figueiredo.
Médica de profissão, garantiu que continuará envolvida a "200 por cento" nestes projectos e espera que a comunidade viseense faça o mesmo. Inês Figueiredo considera Viseu uma "cidade solidária" e "preocupada com o outro": "Acho que Viseu se vai unir a esta causa e aos projectos da Saúde em Português".
Cuidados de saúde física e psicológica chegam a populações excluídas Sem-abrigo, reclusos e prostitutas de Viseu vão ser os alvos dos projectos da organização não-governamental `Saúde em Português' As equipas que vão para o terreno vão ser muttidisciplinares, de modo a que os cuidados não incidam apenas na saúde física Trabalho difícil devido à desconfiança da população-alvo O projecto Saúde na Esquina já foi implementado há uns anos em Coimbra, e, apesar do sucesso, terminou por falta de financiamento da Direcção Geral da Saúde. Ainda assim, nem tudo correu bem e Inês Figueiredo aproveitou a experiência em Coimbra para fazer ajustes ao projecto em Viseu.
"Há alguma desconfiança, alguns receios, é uma população que, se calhar, está muito mais fragilizada do que qualquer outra e em condições bastante diferentes", salientou. Ao contrário de Coimbra, em Viseu não foi encarado como um objectivo o encaminhamento das prostitutas para consultas no centro de saúde. "Esse não é o principal objectivo. O objectivo é diminuir a exclusão, proporcionar cuidados de saúde, estarmos lá e elas saberem que nós existimos e que podem recorrer a nós para terem acesso a um hospital e a outros cuidados", sustentou.
A Saúde em Português estabeleceu uma parceria com a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados D. Duarte para onde irá encaminhar os casos mais complexos que não podem ser resolvidos na carrinha.
As patologias mais frequentes são, de acordo com a delegada regional, "doenças sexualmente transmissíveis, HIV, hepatites, herpes e vários problemas do foro ginecológico".
Saúde em Português Sem-abrigo de Viseu vão ter a partir de Julho um apoio na área da saúde nas instalações da Associação Espírita, no centro da cidade Saúde sem Tecto e Saúde na Prisão no terreno até Outubro Projecto destinado aos reclusos ainda aguarda financiamento. Os sem-abrigo terão novo apoio já a partir de Julho Aorganização não-gover-namental 'Saúde em Português' vai arrancar em Julho com o projecto 'Saúde sem Tecto', criado para apoiar a população sem-abrigo de Viseu.
A Delegação Regional do Centro, com sede em Viseu, concebeu este projecto que será desenvolvido em parceria com a Associação Espírita, entidade que ajuda os sem-abrigo com comida, roupa e calçado. O objectivo é complementar esta acção com "a parte do apoio da saúde, física e psicológica", adiantou a delegada regional, Inês Figueiredo.
"Nunca entendemos a saúde só como o bem-estar físico, tem sempre a componente psicológica", defendeu, justificando esta acção com os sem-abrigo de Viseu. Para este projecto, a Saúde em Português recebeu o apoio da Freguesia de Viseu e poderá avançar já no próximo mês, depois do recrutamento de voluntários.
A população sem-abrigo está "muito bem sinalizada" porque recorre à Associação Espírita e à associação Bora Lá. São quase 3o as pessoas que procuram apoio nas associações e que agora vão passar também a ter um acompanhamento médico nas instalações da Associação Espírita, no centro da cidade.
"Em Viseu também há semabrigo. Quando comecei a pensar nos sem-abrigo, comecei a vê-los. Nós passamos por eles e eles tornaram-se pessoas invisíveis, e nós queremos dar-lhes visibilidade", afirmou Inês Figueiredo.
Prisão com nova dinâmica `Saúde na Prisão' é o único projecto da Delegação Regional do Centro que aguarda financiamento. A organização está a aguardar os resultados de uma candidatura que apresentou a uma linha de financiamento da EDP Solidária para pôr em prática as actividades com os reclusos.
Segundo Inês Figueiredo, o projecto deverá avançar em Outubro e, se não conseguir apoio financeiro, terá de ser redesenhado, uma vez que não haverá dinheiro para tantas iniciativas.
A Saúde em Português pretende implementar um programa bastante diversificado junto dos reclusos, não tão focado na saúde física. "Temos uma parceria com um grupo de psicólogos cá de Viseu, que nos vai ajudar em vários projectos, e vamos, através deles, utilizar outras expressões, nomeadamente a expressão artística e a pintura, como forma terapêutica", descreveu.
As actividades vão desde clubes de leitura a curtas-metragens, passando por uma peça de teatro feita pelos reclusos, workshops de nutrição, de saúde oral, de tabagismo, sessões mais viradas para a religião com mensagens do Papa Francisco, discos-pedidos e tantas outras.
"É um programa para dois anos. É muito diversificado, vai ter vários agentes e vários parceiros de áreas completamente diferentes", destacou, confessando que o projecto "acaba por ter um objectivo terapêutico dissimulado".
Os presidiários só participam nas acções que quiserem até um limite de 21 pessoas por sessão.
Implementar este projecto "não é fácil mas não é impossível", pois há "muita abertura por parte de quem gere a prisão".
"Acho que viemos responder a uma necessidade que já vinham a sentir de haver mais actividades e mais dinâmicas na prisão", considerou a responsável.
saúde trffi Português pretende implementar um programa diversificado junto dos reclusos, não tão focado na saúde físic Saúde em Português quer alargar projectos a outras regiões A Saúde em Português é uma organização nãogovernamental com 23 anos de existência e sede internacional em Coimbra, mas a sua acção tem tido mais visibilidade no estrangeiro, nomeadamente pelo trabalho desempenhado na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
"Agora, chegámos a uma altura em que queremos estender a acção da Saúde em Português dentro de Portugal e a todas as regíões", adiantou Inês Figueiredo. Para isso já foram criadas as Delegações Regionais do Centro (em Viseu) e do Sul (em Lisboa) e Núcleos Distritais.
O ideia da organização é "alargar este tipo de projectos a todo o país", como aconteceu com o Saúde na Esquina, que começou em Coimbra e agora vai para o terreno em Viseu.