Daniel Adwok, in Jornal de Notícias
Drama no Darfur já obrigou a mais de três milhões de refugiados, em busca da sobrevivência
A II Cimeira UE-África, que hoje se conclui em Lisboa, talvez não lembre suficientemente a crise humanitária em Darfur e a questão dos direitos humanos em vários países africanos, em particular no Sudão, na Somália e no Zimbábue. Se for assim, é lamentável que à União Europeia só interesse os negócios. Tenha-se em conta que a União Europeia é o principal parceiro comercial de África, com trocas comerciais que no ano passado ultrapassaram os 200 mil milhões de euros. A Europa é também o maior doador de África, com somas que atingem os 35 mil milhões de euros.
Organizada pela presidência portuguesa da União Europeia (EU), a cimeira propõe-se estabelecer a "parceria estratégica" entre os dois continentes, "baseada nos princípios da interdependência, igualdade na soberania e no respeito".
As conferências episcopais da Europa e da África enviaram aos participantes na cimeira de Lisboa um documento no qual pedem compromissos efectivos em favor do desenvolvimento e contra as "novas formas de escravatura do nosso tempo".
A Igreja manifesta-se contra a "contínua exploração dos recursos de África", com as consequências que tal acarreta para as populações africanas, e lamenta a "fuga de cérebros" rumo à Europa. Os bispos indicam como prioridade o combate ao trabalho infantil, ao tráfico de mulheres e crianças, à discriminação dos migrantes e o "escândalo" da exploração de mulheres e menores para abusos sexuais.
Aos responsáveis políticos, a Igreja recomenda "a prática de uma boa governação, a honestidade, a responsabilidade e a transparência, a promoção da democracia, a educação para todos, o respeito pela lei e a luta contra a corrupção".
Salih Mohmoud Osman, advogado sudanês, vencedor do Prémio Sakarov, veio a Lisboa para recordar que, cinco anos após o início do conflito no Sudão, três milhões de pessoas estão refugiadas. O número de vítimas mortais aponta para mais de 500 mil. Também o bispo auxiliar de Cartum, D. Daniel Adwok, em Lisboa, denunciou o interesse político, económico e o domínio que o Governo do Sudão quer.
Por favor, não esqueçam Darfur!
Islamização do Sudão persegue os cristãos
D. Daniel Adwok, bispo auxiliar de Cartum, denunciou, em Portugal, o programa de "islamização" do Governo sudanês, que acentua as perseguições aos cristãos. "Se a única forma de vida permitida pelo Governo é o Islão e não se tolera o Cristianismo, então passaremos à fase de escravatura. Os cristãos não querem isso, mas, se a situação não for resolvida, o Sul deve separar- -se do Norte", defende. D. Daniel Adwok está no nosso país até hoje, a convite da Ajuda à Igreja que Sofre, para falar da dramática situação vivida no Sudão. O bispo tem sido uma voz incómoda ao denunciar as falhas de quem governa o Sudão.