7.12.07

Responsáveis regionais demitem-se contra "retrocesso" no tratamento do alcoolismo

Catarina Gomes, in Jornal Público

Ministro da Saúde desvalorizou demissões, considerando serem reacções naturais de quem "sente que perde poder e autonomia"


Os directores dos três centros regionais de Alcoologia (Norte, Centro e Sul) demitiram-se anteontem como forma de protestar contra o que consideram "um retrocesso" na luta contra o alcoolismo.

Em causa está a integração do tratamento do alcoolismo na rede de tratamento da toxicodependência. Os três centros regionais passaram, desde o ano passado, para a alçada do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) e os responsáveis contestam a proposta de regulamento do organismo, que está em preparação.

Os responsáveis questionam a despromoção das três unidades públicas de alcoologia "a meras equipas de tratamento", lê-se no abaixo-assinado que vai ser enviado a vários responsáveis políticos. O director do Centro Regional de Alcoologia do Sul, Domingos Neto, lembra que existem 500 mil doentes alcoólicos face a cerca de 70 mil heroinómanos em Portugal. A ideia é que a rede de 45 ex-centros de atendimento a toxicodependentes passe a incluir a alcoologia. Domingos Neto nota que o centro regional que dirige deu três cursos de formação a técnicos destes centros, mas a continuação da formação foi interrompida por ordem do IDT.

Domingos Neto critica o facto de o IDT ter previsto para 2008 o diagnóstico do alcoolismo no país, concluindo que a rede não estará pronta para tratar estes doentes no próximo ano. O responsável lamenta "a desorganização e falta de interesse no tema", negando tratar-se de "uma guerra de competências e saberes".

Augusto Pinto, director do Centro Regional de Alcoologia do Centro, fala de "retrocesso" porque se reduz os centros de alcoologia ao tratamento quando estes têm actualmente "responsabilidades de investigação, ensino, prevenção, tratamento e reabilitação", continua o abaixo-assinado.

O ministro da Saúde, Correia de Campos, desvalorizou ontem, em Bruxelas, as demissões, refere a Lusa, salientando ser natural haver uma reacção de quem "sente que perde poder e autonomia".

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