Francisco Dolores, in A União
Neste virar de página do calendário, há muitos que fazem balanço de tudo quanto se passou no planeta Terra que se atrasou um segundo ao rodopiar sobre o seu próprio eixo. Não há dúvidas de que o ano, que agora termina, ficará como marco histórico, como premonição das mudanças globais que se adivinham.
A crise global das finanças, com, consequências económicas, politicas e sociais, está longe de serenar os ânimos de muitos que viram goradas as suas esperanças em sistemas que prometiam a felicidade terrena, sem olhar aos valores transcendentais que devem nortear a convivência de todos.
Os messianismos terrestres tem pés de barro, mesmo que as eleições americanas pareçam dar um sentido de mudança. A verdade é que os tiranetes domésticos continuam a fustigar muitos dos povos, que gemem “com as dores de parto” à espera de melhores dias.
A pobreza ganha novos estatutos, atingindo classes e espaços tradicionalmente relacionados com o terceiro-mundismo de muitos comportamentos reveladores da “avidez e estreiteza de horizontes de muitos dos que deveriam servir o Bem Comum e não de servirem-se dos lugares de poder.
Perante as novas fomes de milhões infindos de famintos de tudo, sobretudo dos que sofrem “os fenómenos da marginalização, pobreza relacional, moral e espiritual. Mais grave é que assistimos a “pobrezas impostas”, por “dinâmicas de pobreza” nunca antes vistas.
O papa Bento XVI, neste 42.ª dia Mundial da Paz, convida-nos a uma profunda reflexão e consequente acção, sob o tema “combater a pobreza, construir a Paz. E desafia-nos: sente cada um de nós, no íntimo da consciência, o apelo a dar a própria contribuição para o bem comum e a paz social?”
Num tempo em que nem na própria Terra Santa parece respeitar-se a Santidade de quantos deveriam merecer os esforços de paz de toda a Humanidade. Numa África abandonada a todas as tiranias da exploração pós colonial, mesmo com as ditas independências, que engordam uns tantos sobas e matam à fome milhões de famélicos.
Mesmo, nos chamados países ricos, a fome ganha foros de alforria. É que a “luta contra a pobreza precisa de homens e mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades por percursos de autêntico progresso humano”.
Também no nosso país e nesta Região Autónoma dos Açores muito há a fazer, na educação e responsabilização de cada cidadão no combate à pobreza e na consequente paz que se deseja para todos os sectores da vida, social, política e até religiosa, da comunidade a que pertencemos.