Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Queda dos juros tem sido apoiada pelo Banco Central Europeu que esta quinta-feira voltou a baixar taxas
A descida continuada da inflação dá argumentos ao Banco Central Europeu para baixar a sua taxa directora e, com isso, influenciar novas quebras da Euribor. Quem ganha são as pessoas com empréstimos para a casa.
Ontem, a meio do mês, as Euribor a três e a seis meses continuavam a cair, numa longa linha descendente iniciada em Outubro, quando o Banco Central Europeu (BCE) começou uma série de intervenções no mercado bancário. Se o mês terminar com o mesmo nível de taxas verificado até agora (e tudo indica que até continuarão a descer), as pessoas cujo crédito à habitação seja revisto em Fevereiro, tendo por base as taxas de Janeiro, terão uma boa notícia.
Tanto na Euribor a três quanto a seis meses, as prestações mensais devem cair bem acima dos 200 euros, o que pode representar uma poupança de 95 mil euros no final de 35 anos de empréstimo (no caso de um crédito de 150 mil euros, com um "spread" de 1%).
Nós próximos meses, tudo indica que os juros continuarão a baixar, tanto que o Banco Central Europeu pode ainda cortar mais na sua taxa directora. Pode até chegar a 1,5% ou 1%, admite mesmo Jorge Santos, professor do ISEG. "Não há razões para que, na Europa, os juros cheguem ao nível dos Estados Unidos", onde a Reserva Federal (o banco central) cobra entre 0% e 0,25% de taxa directora. Por cá, diz o professor, a situação económica não é tão difícil, pelo que admite novas descidas por parte do BCE, mas não até aos 0%.
A ajudar está a taxa de inflação. Recorde-se que foi o forte aumento dos preços que levou o Banco Central Europeu a começar a subir a sua taxa directora, em 2005. Durante o Verão do ano passado, produtos como os combustíveis, os alimentos e metais como o cobre atingiram máximos históricos, mas a partir daí estes preços caíram a pique, levando a uma redução acelerada da inflação (ler em baixo). Sendo o controlo da inflação a prioridade do BCE, é de esperar que o abrandamento do crescimento de preços lhe dê mais margem de manobra para aliviar os juros.
Na Europa, e em Portugal também, o problema não é tanto o valor dos juros, mas sim a disponibilidade do dinheiro. "Vamos viver uma época de crédito difícil mas barato", acredita o economista Augusto Mateus.
O professor universitário Luís Campos e Cunha apoia a descida da taxa de referência do BCE, mas diz que "a queda dos juros não tem um impacto muito significativo na actividade económica, porque o problema não é do crédito ser caro; o problema é não existir crédito". O que só se resolve "com ampla oferta de liquidez, o que, aliás, o BCE tem feito", afirmou, por escrito, ao JN.
Também Jorge Santos pensa que a era do crédito fácil acabou. "Vai ser sempre mais difícil do que antes da crise porque os bancos vão ter mais cuidado". E espera que os empréstimos conseguidos pela Caixa Geral de Depósitos, Espírito Santo e Millennium com o apoio da garantia dada pelo Estado ajudem a desbloquear o estrangulamento a que a Banca sujeitou empresas e famílias.